Título

O desafio do diálogo no trabalho em equipe e seus efeitos no processo de adoecimento do paciente

Resumo

O modelo biopsicossocial de atenção considera o paciente como um ser total, compreendendo o processo saúde-doença para além do aspecto biológico, englobando o homem em seu contexto de relações e emoções no qual o tratamento é fundamentado no trabalho integrado entre os profissionais das diferentes áreas que compõem a equipe de saúde. Para tal, é essencial que haja comunicação efetiva e colaboração entre os profissionais, desenvolvendo a capacidade de escutar e compartilhar responsabilidades, possibilitando assim a tomada conjunta das decisões e a articulação das ações (Ismael, 2005).
De acordo com Victorino et al (2007) a ocorrência de falhas na comunicação pode acarretar problemas na relação equipe-paciente, refletindo negativamente no entendimento do paciente sobre seu diagnóstico e tratamento, nas suas reações diante da internação e, consequentemente, na adesão ao tratamento.
Este trabalho tem por objetivo apresentar os efeitos negativos da falha na comunicação entre os membros das equipes de saúde – neste caso uma composta por profissionais da área de cirurgia vascular e outra por profissionais de cardiologia – e entre estes e o paciente por meio do estudo de caso realizado durante a prática do curso de especialização na Unidade Cardiointensiva de um hospital universitário do Rio de Janeiro em 2016.O caso foi acompanhado a pedido da equipe de cardiologia por meio de atendimentos realizados junto ao leito, além do contato contínuo com a equipe médica.
Foi possível observar que houve dificuldade da equipe em decidir pela amputação de parte do membro inferior esquerdo agravada pela piora da condição cardíaca do paciente, ocasionando constantes adiamentos da cirurgia. Em diversos momentos os integrantes da equipe transmitiam informações contraditórias quanto à realização e extensão da amputação e, diante deste cenário, o paciente apresentava dúvida quanto à gravidade da sua condição.
Neste contexto de incerteza o paciente passou por diversos momentos de irritabilidade, tristeza e ansiedade exacerbada frente à sensação de falta de controle. Demonstrava-se diariamente em estado de prontidão em uma tentativa de se preparar para o procedimento cirúrgico. Esta situação afetou de forma negativa o seu processo de elaboração das perdas, dificultando a compreensão quanto ao seu quadro, além de prejudicar a aceitação do paciente e a adoção de uma postura ativa de co-responsabilização pelo seu tratamento.
A comunicação é uma habilidade que deve ser constantemente trabalhada para que ocorra de forma honesta e realista, com linguagem acessível e que possibilite avaliar a aceitação e compreensão das informações transmitidas, de modo que permita espaço para sanar eventuais dúvidas do paciente. Essas características são importantes tendo em vista o efeito terapêutico da informação ao diminuir a ansiedade e facilitar a adesão ao tratamento, principalmente no que diz respeito à transmissão de notícias difíceis que terão impacto na perspectiva de futuro.Neste contexto o psicólogo pode contribuir ao investir em canais de comunicação entre a equipe e o paciente, além de lhe possibilitar um espaço para que possa falar sobre o seu processo de adoecimento e, assim, ressignificar sua experiência em busca de um novo sentido.

Referências Bibliográficas

Ismael, S.M.C (2005) A prática psicológica e sua interface com as doenças. 1ª ed. São Paulo, Casa do Psicólogo.
Victorino, A.B.; Nisenbaum, E.B.; Gibello, J.; Bastos, M.Z.N. & Andreoli, P.B.A. (2007) Como dar más notícias: uma revisão bibliográfica. Revista da SBPH, 10(1), 1-8.

Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.2 Saúde Mental do Paciente, Família e Equipe