Título do Simpósio - Tecnologia e saúde: uma nova experiência subjetiva de adoecimento, tratamento e relação equipe de saúde–paciente
Vivemos na era do domínio do discurso da ciência, dos avanços da tecnologia e da sociedade de consumo. E, os avanços e a presença massiva da tecnologia na vida da cultura contemporânea determinou mudanças na maneira como nascemos, vivemos e morremos. Este cenário tem um impacto nas formas de subjetivação e nos modos de adoecer. Pretendemos tratar neste simpósio do impacto da tecnologia na experiência subjetiva de adoecimento, de tratamento da saúde/doença e na relação equipe de saúde-paciente. A tecnologia trouxe uma nova experiência de adoecimento e de tratamento. Os recursos tecnológicos aplicados à medicina permitem o diagnóstico de uma doença grave e potencialmente fatal, e seu tratamento com cirurgias e procedimentos complexos e invasivos, sem que tenha havido a manifestação de qualquer sintoma. Também é possível o diagnóstico e o tratamento de uma doença no ser ainda em seu estado fetal, ou seja, antes mesmo do seu nascimento. Isto nos coloca algumas questões. Estamos falando de adoecimento, se não há mal estar, se não há sintoma clínico, se ainda não ocorreu o nascimento? Parece-nos que esta realidade implica considerar que trata-se de uma nova experiência subjetiva de doença, que inaugura também uma nova relação com o próprio corpo, com o tratamento e com a equipe de saúde. Como é a experiência subjetiva de ter revelado pela tecnologia dos exames e pela palavra do médico algo que é completamente estranho ao sujeito? Que mal-estar é esse de que fala o médico? Que corpo é este definido como doente pelas imagens? Submeter-se ou não a um procedimento invasivo e complexo que tem riscos e pode trazer sequelas importantes, no tratamento de uma doença assintomática ou de um bebê que ainda não nasceu, é salvação ou invasão? Por outro lado, o impacto da tecnologia no diagnóstico e tratamento da saúde/doença traz além das imagens cada vez mais precisas e dos procedimentos terapêuticos cada vez mais sofisticados, a possibilidade de tratamento sem a presença física de paciente e profissional de saúde, a telemedicina. Assim, temos que doença – como o tabagismo – que compreende uma dependência química e uma adição psicológica, utiliza-se de recursos tecnológicos quando passa a oferecer tratamento de cessação de tabagismo online. O que isto muda na relação paciente-profissional de saúde? Pode ser um elemento que favorece ou desfavorece a motivação, a adesão e a eficácia do tratamento? Questões de uma realidade nova que se impõe ao sujeito contemporâneo e um desafio à clínica da psicologia no contexto hospitalar, as quais pretendemos discutir neste Simpósio.
Glória Heloise Perez
Tecnologia em saúde: o que muda na experiência subjetiva de adoecimento?
A tecnologia transformou profundamente a nossa vida, em todos os sentidos. Modificou o próprio conceito do que é vida e morte. E, consequentemente a forma como vivemos, como nos relacionamos com o nosso corpo, com o outro e também como adoecemos. A medicina protocolar propõe o rastreamento de doenças, de tal forma que o sujeito vive a possibilidade de ter o diagnóstico de uma doença grave, potencialmente fatal , de submeter-se a cirurgias e a procedimentos terapêuticos altamente complexos e invasivos, sem nunca ter tido sequer um sintoma, nenhum mal-estar. Isto implica numa experiência subjetiva completamente diferente de adoecimento, de tratamento e de relação com a equipe de saúde. Trata-se de adoecimento? Podemos falar em mal-estar, se não há sintoma clínico? Não podemos pensar que o próprio conceito de saúde da OMS – “estado do mais completo bem-estar físico, mental e social” está contemplado para este sujeito? Como é a experiência subjetiva de ter revelado pela tecnologia dos exames e pela palavra do médico algo que é completamente estranho ao sujeito? Que mal-estar é esse de que fala o médico? Que corpo é este definido como doente pelas imagens? Nossa proposta é discutir nesta apresentação os aspectos do trabalho psíquico envolvido nesta nova experiência de adoecimento do sujeito contemporâneo, bem como seu impacto na relação com a equipe de saúde e o tratamento .
Autor 2: Simone Kelly Niklis Guidugli
A intervenção cirúrgica intraútero e a subjetividade da gestante: salvação ou invasão?
Nos últimos anos o aprimoramento da medicina fetal aliado ao avanço da tecnologia tem caminhado em um ritmo acelerado. Procedimentos e intervenções intraútero foram desenvolvidos para tratar os casos de malformações fetais e com isto a Psicologia Hospitalar se deparou com a necessidade de se renovar uma vez que a subjetividade envolvida nesses processos também inclui a novidade - por vezes conflituosa – da gestante participar do processo de decisão entre se submeter ou não à intervenção indicada pela equipe médica. A presente proposta tem o objetivo de discutir os aspectos subjetivos latentes e manifestos que surgem no atendimento psicológico à gestante hospitalizada e que recebe a indicação de serem – ela e o feto - submetidos a uma intervenção cirúrgica intraútero. Se por um lado tal intervenção possibilita a manutenção da vida ou melhoria das condições de vida de fetos, pensando no momento posterior ao nascimento, por outro, há riscos que também se impõem nesta realidade, dificultando os processos de decisão e de elaboração psíquica para o enfrentamento de tal situação. Os riscos estão presentes diante da decisão de se submeter e também na decisão de não se submeter à intervenção, assim como há riscos ao feto e à mãe, dependendo do diagnóstico ou condição apresentados. O psicólogo hospitalar, portanto, participa de um processo de decisão geralmente doloroso e subjetivamente muito significativo, tratando-se de um trabalho terapêutico desafiador por todo o contexto e também no sentido de estar contemplando a interação tecnologia médica-subjetividade humana.
Silvia Maria Cury Ismael
Novas demandas, novos tratamentos: tratamento de cessação de tabagismo online
O tabagismo é um problema de saúde pública mundial e está associado a mais de 50 doenças tabaco-relacionadas, e a previsão de morte para esta modalidade é de 10 milhões no ano de 2030. A telemedicina é a prestação de cuidados à saúde em realidade virtual, permitindo ampliar o acesso a saúde pelo usuário e a cobertura do mesmo. O SUS está implementando este processo através do programa “Saúde Digital”. O tabagismo compreende um quadro de dependência química e de adição psicológica que, por suas peculiaridades, compreende com frequência a falta de motivação e a baixa adesão ao tratamento de cessação. A experiência clínica aponta que muitas vezes as dificuldades de acesso ao tratamento são fatores de resistência de sua busca. Com isto, pensou-se em adaptar o tratamento de cessação do tabagismo presencial, já consagrado, para o modelo online. Neste novo modelo, o paciente tem algumas sessões presenciais e outras online, com um acompanhamento do psicólogo no processo de cessação do fumar. Além da facilidade de não precisar haver o seu deslocamento, para o local do tratamento, o que pode ser um fator inibidor da resistência de adesão ao processo de cessação, permite ainda que o profissional possa ser acessado quando necessário, no surgimento de dúvidas ou dificuldades. Sentir ter à sua disposição um suporte e acolhimento para suas dúvidas e dificuldades visa favorecer a auto-eficácia, com impacto na adesão e eficácia do tratamento. Pretendemos discutir nesta apresentação o impacto das peculiaridades do tratamento da cessação do tabagismo online na motivação, adesão e eficácia.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.2 Saúde Mental do Paciente, Família e Equipe
HCor - Associação do Sanatório Sírio - Hospital do Coração - São Paulo - Brasil, InCor HCFMUSP - São Paulo - Brasil
Glória Heloise Perez, Simone Kelly Niklis Guidugli, Sílvia Maria Cury Ismael