Descortinando a UTI Neonatal
O primeiro contato com a UTI Neonatal acontece de forma abrupta e inesperada e, isso revela o contraste entre as expectativas e a realidade que se apresenta para as figuras parentais e seus familiares. O encontro inaugural com o bebê, diante de um setor de internação, no qual o cuidado é intensivo e repleto de sentimentos ambíguos e mobilizadores. Lidar com uma realidade que se apresenta distinta ao que fora idealizado é algo traumático e mobilizador e o reconhecimento e empoderamento parental podem ser colocados em segundo plano. Com base no contato e na convivência com situações dramáticas diárias, na UTI Neonatal, o projeto “Descortinando a UTI Neonatal”, sendo o nome utilizado como metáfora para ampliar olhares e integrar família e equipe, foi desenvolvido com o objetivo de receber, acolher, orientar, empoderar e desmistificar alguns estigmas relacionados a Unidade de Terapia Intensiva. O fato de contar com uma cartilha informativa com fotos de bebês internados no setor, em estilo newborn, visou valorizar a realidade que se apresenta, ou seja, a realidade possível, pois demonstra a possibilidade de ampliar horizontes e proporcionar uma experiência de contato singular entre os pais e, assim, acaba por desconstruir e ressignificar, a imagem de um bebê que, por muitas vezes, não representa o imaginado pela sociedade mostrando que é importante valorizar o que é possível diante da vida.
Os cuidados despendidos na UTI de maneira intensiva possibilitam chances de sobrevivência e recuperação aos recém-nascidos com complicações de saúde. Esta recuperação só é possível em decorrência da oferta de cuidados por meio da alta complexidade necessária ao tratamento. Porém além dos cuidados clínicos, é ainda fundamental que haja humanização durante o processo de internação, reforçando o vínculo entre pais e seus bebês, promovendo assim um cuidado afetuoso, com investimento de amor. Num eficaz processo de humanização considera-se ainda a importância do bom relacionamento entre equipe e família, possibilitando assim um estreitamento no cuidado.
A mãe, como um ser que inspira cuidado e proteção ao deparar-se com a internação de seu filho recém-nascido pode penalizar-se com sentimentos de tristeza e culpa. Estes sentimentos costumam estar associados ao fato da mãe não considerar-se como uma boa cuidadora, falhando na atuação de cuidado. Esta culpa pode ser um complicador no enfrentamento do período de internação, porém, viabilizar que haja um espaço para fala juntamente com outras mães, pode trazer alívio ao sofrimento. “Descortinar” a UTI, desmistificando equipamentos, procedimentos e rotinas aproximam os pais dos cuidados, permitindo o fortalecimento do vínculo de afeto e cuidado ao passo que os mesmos sentem-se pertencentes no cotidiano do bebê.
Durante os grupos, que contaram com a presença de uma equipe multidisciplinar, foi possível perceber uma maior vinculação entre equipe e pais, fator que viabilizou a aproximação dos mesmos no ambiente de UTI. Desta forma, o sentimento de cuidador atuante e participativo reforçou a construção de um vínculo seguro entre pais e bebês.
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Anelise Fiori da Silva, Josiane Borges Soares