Estresse psicológico e ocupacional entre policiais rodoviários federais do Estado de São Paulo: um motivo de preocupação
Introdução: O estresse pode ser estimulante e desencadear crescimento intelectual e emocional, gerando prazer1. No entanto, quando o indivíduo é exposto ao agente estressor por período prolongado de tempo inicia-se um processo de desgaste que pode se intensificar até o ponto de esgotamento.2 O amplo escopo de responsabilidades e também a diversidade de situações que demandam ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) contribuem para que agentes/eventos estressores façam parte da rotina diária de centenas de policiais. Contudo, ainda existem poucos estudos dedicados a identificar o tema nesta população. Objetivos: estimar a prevalência de estresse na PRF, bem como de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), estresse ocupacional e de Síndrome de Burnout nessa população de trabalhadores. Metodologia: foi realizado um estudo observacional e transversal com uma amostra probabilística (n = 202) de policiais recrutada no Estado de São Paulo. Os instrumentos utilizados foram: i) Questionário Geral (QG) para a caracterização da amostra e obtenção de dados sociodemográficos e profissionais; ii) Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSL) (sintomas de estresse); iii) Escala de Impacto do Evento - Revisada (IES-R) (TEPT); iv) Escala de Vulnerabilidade do Estresse no Trabalho (EVENT) (estresse ocupacional; v) Inventário de Burnout de Maslach, versão HSS (MBIHSS) (sintomas de Síndrome de Burnout). Os dados foram armazenados em planilhas excel e analisados com a utilização dos softwares Stata 8.0 for Windows e R3.3.2. A medida de associação escolhida foi o Odds Ratio (OR) e o seu intervalo de confiança (IC). O nível de significância adotado foi de 5%. Resultados: a prevalência de sintomas de estresse na amostra representou 43,1% (IC95% = 36,2–50,0) com a seguinte distribuição por fase: 2,3% (IC95% = 0,2–8,0) em “Alerta”; 82,7% (IC95% = 73,2–90,0) em “Resistência”; 11,5% (IC95% = 5,7–20,1) em “Quase Exaustão” e 3,5% (IC95% = 0,7–9,7) em “Exaustão”. Ainda, 60,9% da amostra apresentaram sintomas psicológicos de estresse, 33,3% sintomas físicos e 5,8% ambos. A prevalência de TEPT ocorreu em 25,4% (IC95% = 19,3–31,4) da amostra, sem a predominância entre as subescalas. A prevalência de sintomas de estresse ocupacional afetou 35,2% (IC95% = 28,5–41,8) dos policiais participantes do presente estudo. Não houve registro na amostra referente à Síndrome de Burnout. Discussão dos Resultados: as prevalências de estresse encontradas neste estudo apresentaram valores compatíveis com os valores de pesquisas semelhantes – elaboradas em outras categorias de policiais –, tanto no contexto nacional como no internacional. Há indícios que o tempo para práticas de lazer pode exercer influência como fator de proteção contra os sintomas de estresse; por outro lado, há indícios que processos penais e o longo tempo de carreira podem exercer influência como fatores de risco. Conclusões ou Considerações Finais: em última análise, a combinação dos resultados aqui apresentados sugerem indícios do adoecimento – em curso – desta população, sugerindo políticas públicas de saúde voltadas a eles, especialmente se considerado que a saúde desses trabalhadores está relacionada ao bom funcionamento do trânsito e da sociedade como um todo.
1. Limongi França AC, Rodrigues AL. Stress e Trabalho: uma abordagem psicossomática. 4 ed. São Paulo: Atlas; 2005.
2. Selye, H. Stress - A tensão da Vida. São Paulo: IBRASA - Instituição Brasileira de Difusão Cultural; 1959.
2. Universalidade, Equidade e Integralidade em Saúde - 2.1 Interfaces da Psicologia da Saúde e Hospitalar com as Políticas Públicas de Saúde, de Assistência Social e de Educação
Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, FMUSP - São Paulo - Brasil
Léa Pintor de Arruda Oliveira, Lucio Garcia de Oliveira, Heráclito Barbosa de Carvalho