Título

A escuta analítica de pacientes com HIV/AIDS a partir das solicitações da equipe multiprofissional em uma Enfermaria de Infectologia de um Hospital Geral de Minas Gerais.

Resumo

INTRODUÇÃO: O HIV (vírus da imunodeficiência humana) é reconhecido como agente causal da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) e ataca células de defesa do organismo possibilitando uma maior vulnerabilidade a outras doenças. Segundo dados da UNAIDS de 2015, o Brasil tem atualmente uma das maiores coberturas de tratamento antirretroviral (TARV) entre os países de baixa e média renda. No entanto, mesmo para quem têm acesso aos medicamentos, o alto grau de sofrimento psicológico e os efeitos colaterais com os quais estes indivíduos convivem ainda são importantes obstáculos ao tratamento. Indivíduos portadores de HIV, por serem imunodeprimidos, muitas vezes necessitam ser hospitalizados por doenças habitualmente tratadas ambulatoriamente. A Enfermaria de Moléstias Infecciosas (MI) do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia – HCU dispõe de equipe multiprofissional capacitada para assistir pacientes com doenças infecciosas e parasitárias, em 14 leitos de internação. As psicólogas realizam busca ativa e atendem pedidos de parecer clínico da equipe e demandas do paciente e/ou familiares. OBJETIVOS: Abordar os aspectos psicológicos que emergem de pacientes hospitalizados convivendo com o vírus HIV após as solicitações da equipe multiprofissional e apresentar dados estatísticos dos atendimentos psicológicos nesta enfermaria. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo descritivo a partir dos casos clínicos atendidos. Os dados foram colhidos através de abordagens terapêuticas (psicoterapia breve de fundamentação psicanalítica) e consulta aos registros de parecer clínico da Gerência de Psicologia e Psicopedagogia do HCU, prontuários e Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do SUS no HCU. RESULTADOS: Foram acompanhados 80 pacientes na Enfermaria de MI no ano de 2016. Deste total, 49 com diagnóstico de HIV/AIDS, 22 mulheres (44,9%) e 27 homens( 55,1%), com idades entre 16 e 72 anos, sendo que 11 pacientes (22,45%) faleceram durante o período de internação ou até um ano após a hospitalização. DISCUSSÃO: Percebe-se que as demandas para atendimento psicológico encontram-se em torno de sintomas depressivos e ansiosos de paciente e/ou familiares, auxílio psicológico na comunicação de más notícias, entre elas o diagnóstico recente de HIV, comorbidades graves e óbitos, manejo de transtornos psiquiátricos, tais como ajustamento, mental orgânico, abstinências, entre outros, bem como manejo em relação à adesão ao tratamento e a hospitalização. Após o contato com o paciente, percebe-se angústias e temores (em relação à morte, estigma social, sigilo do diagnóstico), perdas, dificuldade de adesão ao tratamento, efeitos colaterais das medicações, entre outros. CONCLUSÃO: Compreende-se que, apesar das dissonâncias entre as solicitações de atendimento psicológico e as demandas apresentadas pelos pacientes, conviver com HIV/AIDS se constitui um processo doloroso e crônico, que incorpora aspectos biológicos, psicológicos e sociais. O trabalho em equipe multiprofissional, com profissionais que levem em consideração os aspectos subjetivos associados ao HIV/AIDS, é extremamente importante e possibilita, a partir da oferta de um espaço de cuidado, a expressão das vivências, o que pode contribuir para um enfrentamento mais saudável da situação de adoecimento e o cuidado a uma condição crônica de saúde.

Referências Bibliográficas

COELHO, A. B. Fatores associados ao risco de internação dos indivíduos HIV (+). 2014. 155 fl; Dissertação de mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública na área de concentração de Métodos Quantitativos em Epidemiologia – Escola Nacional de Saúde Pública. Fundação Osvaldo Cruz. Ministério da Saúde, Rio de Janeiro.
UNAIDS.Estatísticas. Disponível em: http://unaids.org.br/estatisticas/. Acesso em: 27 de março de 2017.

Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.5 Doença Crônica e Dor ao longo do Ciclo da Vida