11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

RODAS DA VIDA: Acompanhantes como protagonistas no cenário hospitalar

Resumo

(INTRODUÇÃO) Como Hannah Arendt (1906-1975) expõe, os atos e discursos são indissociáveis, e essa condição vai além, pois ambos se dão a partir dos encontros, e é na relação com o outro que o sujeito vai sendo construído. Diante desses aspectos, o ambiente hospitalar pode ser apreendido como um espaço de encontros e construções, desde que, meios sejam agenciados para essa finalidade. Neste sentido, o Projeto Rodas da Vida foi criado em 2010, no âmbito das ações de humanização, sendo desenvolvido no Hospital de Urgências de Sergipe (HUSE) no município de Aracaju/SE, atualmente em seis alas dessa instituição, o qual tem como propósito criar um espaço em que as pessoas envolvidas no processo de produção de saúde tenham participação ativa. Assim, profissionais e usuários usufruem semanalmente de um espaço democrático no qual dúvidas, inquietações e ideias, podem ser apresentadas e discutidas num intervalo estimado de 1 hora numa roda de conversa. (OBJETIVO) Diante desse contexto, buscou-se analisar o modo de inclusão dos sujeitos no Projeto Rodas da Vida, pautado em diretrizes da Política Nacional de Humanização (PNH), como a Clínica Ampliada e a Cogestão e seu dispositivo de Visita Aberta e Direito a Acompanhante, e no Método da Roda proposto por Gastão Wagner de Souza Campos. (METODOLOGIA) Para isso, foi realizada uma pesquisa qualitativa, a partir das experiências vivenciadas em encontros grupais do Rodas da Vida, por meio da pesquisa-intervenção, a qual fomenta a implicação do pesquisador e a correlação entre sujeito-objeto. Inicialmente foram realizadas observações dos encontros. Em seguida, foram propostas intervenções e todo material foi registrado em diários de campo, o qual foi posteriormente submetido a uma análise de conteúdo. (RESULTADOS E DISCUSSÕES) Os encontros do Rodas da Vida suscitaram discussões acerca dos acontecimentos no Hospital, de como os sujeitos estavam se sentindo, de suas ideias, inquietações, propostas. Com isso, foi possível destacar através das falas dos participantes aspectos relevantes que permeiam o ambiente hospitalar. Uma acompanhante, num dos grupos em que o tema foi “Conceito de Saúde”, declarou: “Tem gente que tem hipertensão ou qualquer doença e que consegue viver bem mesmo com a doença”. A simplicidade com a qual o conceito de normatividade, discutido por Georges Canguilhem (2009), tomou corpo foi muito interessante. O autor discorre acerca do conceito de capacidade normativa através da qual o sujeito, frente à doença, desenvolve novas normas apresentando dessa maneira normalização diante das novas condições com as quais se depara. Logo, “o doente não é anormal por ausência de norma, e sim por incapacidade de ser normativo” (p.73). (CONSIDERAÇÕES FINAIS) Através dos relatos, de gestos, de olhares e sorrisos o Rodas da Vida se constrói a cada encontro. É experimentado de diferentes modos: como fomentador de discussões; lugar onde informações são divulgadas; espaço lúdico, onde a arte e a cultura produzem ao mesmo tempo distração e reflexão. Configura-se, enfim, como um espaço coletivo, que permite que a palavra circule, que sujeitos se manifestem, que vejam e sejam vistos, que falem e escutem a fala de outros.

Referências Bibliográficas

ARCHANJO, J. V.; BARROS, M. E. B. de. Política Nacional de Humanização: Desafios de se construir uma “Política Dispositivo”. IN: Encontro Anual da Abrapso, XV, Rio de Janeiro: UERJ, 2009.
ARENDT, Hannah. A dignidade da política. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 3ª ed., 2002.
ARENDT, Hannah, 1906-1975. A condição humana/ Hannah Arendt: tradução de Roberto Raposo, posfácio de Celso Lafer. – 10. ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
BAREMBLIT, Gregorio F. Compêndio de análise institucional e outras correntes: teoria e prática/ Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992, p. 11-55.
BENEVIDES, R.; PASSOS, E. Humanização na saúde: um novo modismo? Comunicação, Saúde, Educação, 9(17): p.389-406, mar/ago, 2005.
BRASIL. Ministério da Saúde. Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde/MS. –Brasília:Ministério da Saúde, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: ambiência / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
aBRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Grupo de Trabalho de Humanização / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 2. ed.– Brasília : Editora do Ministério da Saúde. 16 p. : il. color – (Série B. Textos Básicos de Saúde), 2008.
bBRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização.– 4. ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Redes de Produção de Saúde. Brasília, 2009.
aBRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 4. ed. 4. reimp. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2010.
bBRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 2. ed. 5. reimp. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010.
cBRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização. Formação e intervenção / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. 242 p. – (Série B. Textos Básicos de Saúde) (Cadernos HumanizaSUS ; v. 1), 2010.
dBRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS : visita aberta e direito a acompanhante / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 2. ed. 4. reimp. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
aBRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção hospitalar / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
bBRASIL. Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários da saúde / Ministério da Saúde. – 3. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2011.
BRASÍLIA. Cartilha Nacional de Humanização – PNH. Ministério da Saúde -Secretaria de Atenção à Saúde, 1ª edição, 1ª reimpressão, 2013.
CAMPOS, G. W. S. Saúde Paidéia. Ed. Hucitec, São Paulo, 2003.
CAMPOS, G. W. S. Humanização na saúde: um projeto em defesa da vida? Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 9(17), p.389-406, mar/ago, 2005.
CAMPOS, G. W. S.; RATES, S. M. M. Segredos e impasses na gestão de um hospital público. Revista Médica de Minas Gerais, 18(4):279-283, 2008.
CANGUILHEM, G., 1904-1995. Doença, Cura e Saúde. IN: O normal e o patológico /Georges Canguilhem; tradução de Mana Thereza Redig de Carvalho Barrocas; revisão técnica Manoel Barros da Motta; tradução do posfácio de Piare Macherey e da apresentação de Louis Althusser, Luiz Otávio Ferreira Barreto Leite. - 6.ed. rev. - Rio de Janeiro:Forense Universitária, 2009, p. 71-80. COELHO, M. T. A. D.; FILHO, N. A. Normal-Patológico, Saúde-Doença: Revisitando Canguilhem. PHYSIS: Ver. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 9(1): 13-36, 1999.
ESCÓSSIA, L. Da interação ao coengendramento. IN: O coletivo como plano de coengendramento do indivíduo e da sociedade. São Cristóvão: Edição da UFS, 2014, p. 47-97.
FUNESA – Fundação Estadual de Saúde. A Reforma Sanitária e Gerencial do SUS no Estado de Sergipe. Guia do Facilitador 1/ Fundação Estadual de Saúde – Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe, - Aracaju: FUNESA, 2012.
GERSCHMAN, S.; SANTOS, M. A. B. O Sistema Único de Saúde como desdobramento das políticas de Saúde do século XX. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 21 (61), Junho, 2006.
KASTRUP, V. O método da cartografia e os quatro níveis da pesquisa-intervenção. In: CASTRO, L. R.; BASSET, V. L. (Org.). Pesquisa-intervenção na infância e juventude. Rio de Janeiro: Nau, 2008, p. 465-481.
MENDES, E. V. 25 anos do Sistema Único de Saúde: resultados e desafios. Estudos Avançados, 27 (78), 2013.
MERHY, E.E.; FEUERWERKER, L.C.M. Novo olhar sobre as tecnologias de saúde: uma necessidade contemporânea. In: MANDARINO, A.C.S.; GOMBERG, E. (Orgs.). Leituras de novas tecnologias e saúde. São Cristóvão: Editora UFS, 2009. p. 29-74.
PASHE. Dário Frederico. Política Nacional de Humanização como aposta na produção coletiva de mudanças nos modos de gerir e cuidar. Interface Comunicação Saúde Educação, 13(1), p.701-8, 2009.
ROCHA, M. L.; AGUIAR, K. F.. Pesquisa-Intervenção e a Produção de Novas Análises. Psicologia Ciência e Profissão, 23 (4), 64-73, 2003.
SANTOS, Cláudia Menezes; CUNHA, Letícia Santiago Santos; LIMA, Maria da Conceição de Santana. Atenção Hospitalar no Estado de Sergipe. Saberes e tecnologias para implantação de uma política. 1ª edição, Ed. Fundação Estadual de Saúde – FUNESA, Aracaju, 2011.
SPINK, M. J. Psicologia Social e saúde: práticas, saberes e sentidos. Vozes, Petrópolis, RJ, 2003.
SPINK, M. J.; MATTA, G. C. A prática Psi na Saúde Pública: configurações históricas e desafios contemporâneos. In: SPINK, Mary Jane. A psicologia em diálogo com o SUS: prática profissional e produção acadêmica. Casa do Psicólogo, 2007, p.25-52.

Área

4. Modelos de Prevenção e Promoção da Saúde em Diferentes Contextos - 4.3. Humanização

Instituições

HUSE - Sergipe - Brasil

Autores

Juliana Polini Costa Dantas, Liliana da Escóssia Melo, Marcia Melo de Oliveira Santos