Título

Limitações, perdas e luto no processo de adoecer por doença pulmonar obstrutiva crônica: estudo de caso.

Resumo

Doenças e suas sequelas, em algum nível, alteram o curso da vida das pessoas, trazendo limitações e modificações que são vivenciadas como perdas ou mortes simbólicas requerendo o luto, sempre com caráter singular por cada paciente, posto que, é necessária uma conjunção de aspectos reunidos de modo subjetivo que influenciarão em como cada um atribuirá significado a experiência (VIORST, 2003, KOVÁCS, 2011). Entre as doenças que podem acometer os pulmões comprometendo de modo progressivo suas funções de inspiração e expiração existe a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica - DPOC a qual se refere a um grupo de doenças pulmonares que se caracteriza por sinais e sintomas respiratórios associados à obstrução crônica das vias aéreas inferiores. O objetivo deste estudo foi compreender os significados atribuídos à vivência das limitações, perdas e luto por pessoa que vive com DPOC. A metodologia foi qualitativa de cunho exploratório e descritivo, por meio de um caso clínico com participante de nome fictício Gerânio, 65 anos, casado, aposentado por doença, diagnóstico de DPOC há 14 anos, atualmente em estágio muito severo grau III (GOLD, 2014). Para a coleta de dados foi realizada entrevista semiestruturada em roteiro composto de cinco questões que versavam sobre o viver com DPOC, a partir da assinatura do TCLE pelo colaborador e aprovação em comitê de ética em pesquisa. Para a análise dos dados foi utilizada metodologia da análise de conteúdo. Os resultados indicaram que Gerânio percebe que ser portador de DPOC lhe trouxe perdas na vida conjugal com diminuição da frequência e potência sexual, a mudança de papéis na dinâmica familiar, devido à aposentadoria precoce e incapacidade física para ajudar a esposa na realização de atividades domésticas, mobilizando sensação de menos-valia e insegurança quanto a sua importância no núcleo familiar. A discussão desses resultados revela que decorre dessas mudanças a vivência do luto pela perda de si mesmo e o conflito entre a busca de manutenção da identidade anterior ao adoecimento e a percepção de que as experiências vividas e o caráter progressivo da doença não permitirão esse retorno, além de lutos pela perda da saúde e luto antecipatório, devido à possibilidade constante de perda da vida do corpo, isto é, a morte, à medida que, a doença avança e os sintomas progridem, o que mobiliza sofrimento e angústia de morte. Concluiu-se assim que a vivência de ser portador de DPOC, uma doença crônica e progressiva que vai de limitante a incapacitante, repercute subjetivamente na vida do portador, de modo que, as limitações vão sendo identificadas como perdas, à proporção que, a doença avança, mobilizando pesar como resposta. Além de que requerer a mudança de perspectiva enquanto identidade pelas mudanças permanentes que a doença demanda. Assim, a vivência do luto é um processo que precisa ser vivido, refletido e expresso, enquanto que também seja um processo que possibilita a ressignificação da relação do sujeito com o que foi perdido.

Referências Bibliográficas

GLOBAL INICIATIVE FOR CHRONIC OBSTRUTIVE LUNG DISEASE – GOLD. Global strategy for the diagnosis, management, and prevention of chronic obstructive pulmonary disease. 2014. Disponível em: http://www.goldcopd.org/uploads/users/files/GOLD_Report2014_Feb07.pdf. Acesso em: 20 mar. 2014.
VIORST, Judith. Perdas necessárias. São Paulo: Melhoramentos, 2003.
KOVÁCS, Maria Júlia. A morte em vida. In: FRANCO, Maria Helena Pereira, et al (orgs). Vida e morte: laços de existência. São Paulo: Caso do Psicólogo, 2011.