11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

“BICOLORES”: REPRESENTAÇÕES SOCIAS DE PESSOAS COM VITILIGO SOBRE SUA AFECÇÃO

Resumo

A pele, a partir da perspectiva teórica biológica, configura-se como um sistema epitelial que possui como uma de suas principais funções isolar estruturas internas do corpo do ambiente externo. Nesse sentido, esta pode ser entendida como uma fronteira mediadora entre o organismo e ambiente. Sabe-se que muitas doenças acometem a pele, como o Vitiligo, afecção de etiologia complexa, que envolve fatores biológicos e psicológicos em seu surgimento e progressão, atinge aproximadamente 2% da população mundial e compromete de modo semelhante homens e mulheres. Esta doença caracteriza-se por provocar a despigmentação da pele, com formação de acromias, oriundas da redução e/ou perda de função dos melanócitos. Entende-se consensualmente na literatura, que o Vitiligo apresenta-se de forma assintomática na dimensão físico-orgânica do paciente. Entretanto, as máculas esbranquiçadas favorecem, pela exposição do diagnóstico, experiências subjetivas e intersubjetivas de estranhamento ao sujeito que as possui. Tendo-se em vista esta complexidade e a importância de conhecer a problemática a partir da ótica dos próprios pacientes com Vitiligo, objetiva-se com este estudo apresentar as Representações Socias destes sobre a afecção. Trata-se de uma pesquisa exploratória/descritiva, com abordagem qualitativa, desenvolvida com 198 brasileiros, maioria do sexo feminino (69,88%), membros de grupos do Facebook relacionados a temática do Vitiligo e de idades entre 18 e 70 anos (M=38,85; DP=12,53). Utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário online com a pergunta: “Para você, o que significa possuir Vitiligo?”. Destaca-se que realizou-se a Análise de Conteúdo Temática das respostas coletadas, com auxílio do software QDA Miner, obtendo-se duas categorias temáticas. A primeira categoria (Psicodermatologia e Vitiligo) teve o conteúdo das respostas ancorado, ora no saber dermatológico, ora psicossocial, afirmando-se que possuir Vitiligo é ter uma “doença autoimune”, “estética” e “não contagiosa”, assim como, que possui “aspectos emocionais", "psicológicos" e "sociais" envolvidos em seu surgimento e progressão. Isso ocorre predominantemente com participantes de idades entre 18 e 23 anos (n=26), o que indica uma compreensão da afecção do público mais jovem do estudo voltada para a Psicodermatologia, que considera aspectos biopsicossociais no adoecimento da pele. No que tange a segunda categoria (Dermatologia e Vitiligo), evidencia-se a ancoragem das respostas no saber biomédico, objetivando-se o possuir a afecção a uma “fraqueza do organismo”, “falta de melanina/pigmentação da pele” que “deve ser combatida com uso de pomadas e/ou de ingestão de medicamentos”. Isto tornar-se um agravante, pois, tal apreensão dos participantes fora prevalente no presente estudo (n=172), indicando uma visão biomédica cristalizada de que o Vitiligo ocorre unicamente por questões biológicas. Tais dados evidenciam um campo representacional marcado por duas perspectivas diferentes em relação a compreensão do Vitiligo, podendo-se assim, orientar condutas exclusivamente voltadas para terapêuticas biomédicas e aquelas que levam em consideração os saberes difundidos pela Psicodermatologia, que inova a partir de uma visão holística sobre as afecções de pele. Espera-se assim, que o presente estudo possibilite ampliar reflexões acerca do trabalho desenvolvido por profissionais da Psicologia, especificadamente da Psicologia da Saúde, e Dermatologia junto a pessoas que possuem Vitiligo, visando-se uma compreensão não fragmentada do adoecimento da pele.

Referências Bibliográficas

Antelo, D. P., Filgueira, A. L., & Cunha, J. M. T. (2008). Aspectos imunopatológicos do vitiligo. Med Cutan Iber Lat Am, 36, 125-136.

Bardin, L. (2011). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70.

Brasil. (2012). Resolução 466/2012. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Ministério da Saúde/Conselho Nacional de Saúde, Brasília.

Correia, K. M. L., & Borloti, E. (2013). Convivendo com o vitiligo: uma análise descritiva da realidade vivida pelos portadores. Acta Comportamentalia, 21(2), 227-240.

Costa, D.G., Moreira, J. A., Pinto, N. M. M. (2009). Vitiligo: Influência na Autoestima das Pessoas Acometidas. Rev Enfermagem Integrada, 2(2): 357-368.

Goffman, E. (1981). Forms of talk.

Harris, M. (2003). Pele estrutura, propriedades e envelhecimento. São Paulo, SP: Ed. Senac São Paulo.

Issa, C. M. B. M. (2003) Transplantes de melanócitos no tratamento do vitilgo: um processo terapêutico?. (Tese, Doutorado em Clínica Médica) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.

Jodelet, D. (1998). A alteridade como produto e processo psicossocial. In: ARRUDA, A. (Org.). Representando a alteridade. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 47-57.

Menezes, M., López, M., & Delvan, J. S. (2010). Psicoterapia de criança com alopecia areata universal: desenvolvendo a resiliência. Paidéia (Ribeirão Preto), 20(46), 261-267.

Montagu, A. (2006). Tocar – O significado humano da pele. São Paulo, SP: Summus.

Müller, M.C. (2005). Psicossomática: uma visão simbólica do vitiligo. São Paulo, SP: Vetor, 135p.

Müller, M. C., & Ramos, D. (2004). Psicodermatologia: uma interface entre psicologia e dermatologia. Psicologia: ciência e profissão, 24(3), 76-81.

Nogueira, L. S. C., Zancanaro, P. C. Q., & Azambuja, R. D. (2009). Vitiligo e emoções. Anais Brasileiros de Dermatologia, 84(1), 41-45.

Oliveira, F. L., Silveira, L. K. C. B., Oliveira, R. L., Nery, J. A. C. O impacto psicossocial do vitiligo em adolescente do sexo feminino: um relato de caso. Adolesc Saude, 9(2), 67-71.

Sampaio, S., & Rivitti, E. (1999). A Dermatologia básica. São Paulo, SP: Artes Médicas.

Sant'Anna, P. A., Giovanetti, R. M., Castanho, A. G., Bazhuni, N. F. N., & La Selva, V. A. (2003). A expressão de conflitos psíquicos em afecções dermatológicas: um estudo de caso de uma paciente com vitiligo atendida com o jogo de areia. Psicologia: Teoria e Prática, 5(1), 81-96.

Schwartz, R., Sepúlveda, J. E., & Quintana, T. (2009). Factores psicobiológicos en vitiligo infantil: Posible rol en su génesis e impacto en la calidad de vida. Rev Méd Chile, 137, 53-62.

Silva, A., Castoldi, L., & Kijner, L. C. (2011). A pele expressando o afeto: uma intervenção grupal com pacientes portadores de psicodermatoses. Contextos Clínicos, 4(1), 53-63.

Silva, C. M. R., Pereira, L. B., Gontijo, B., & Ribeiro, G. B. (2007). Vitiligo na infância: características clínicas e epidemiológicas. Anais Brasileiros de Dermatologia, 82, 47-51.

Steiner, D., Bedin, V., Moraes, M. B., Villas, R. T., & Steiner, T. (2004). Vitiligo. Anais Brasileiros de Dermatologia, 79(3), 335-351.

Volich, R. M. (2000). Psicosssomática: de hipócrates a psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.


Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.4 Saúde do Homem e da Mulher

Autores

Emerson Araújo Do Bú, Jaqueline Gomes Cavalcanti, Rhyrilly Pâmella Ribeiro Silva, Maria Edna Silva Alexandre, Fabrycianne Gonçalves Costa