A atuação do psicólogo em casos de óbito fetal
Introdução: O ciclo gravídico-puerperal é um período marcado por vulnerabilidades emocionais decorrentes de alterações psicofisiológicas, sendo influenciado por fatores hormonais, psíquicos e culturais. No caso de intercorrências graves no período gestacional, todos os conflitos psíquicos comuns a uma gestação normal podem ficar exacerbados. O óbito fetal (OF) é uma intercorrência que gera um grande momento de crise no ciclo familiar, já que a morte de um bebê traz a tona uma dor imensurável. A obstetrícia define o OF como a morte de um feto a partir de 20 semanas, ainda em ventre materno. Nesses casos, os pais devem receber cuidados de toda a equipe multidisciplinar, sendo o trabalho do psicólogo fundamental para que haja um espaço de escuta, acolhimento e facilitação da expressão dessa dor. O psicólogo deve incentivar esses pais a utilizarem seus recursos de enfrentamento a favor da elaboração desse luto, para que este siga um caminho apropriado. Objetivo: Apresentar a importância da atuação do psicólogo junto a pais que vivenciaram o OF. Metodologia: trata-se de um relato de experiência do trabalho de psicólogos do Hospital da Mulher Profº Dr José Aristodemo Pinotti (CAISM/Unicamp) e dos aprimorandos do programa de Aprimoramento em Psicologia Clínica na Saúde Reprodutiva da Mulher. Os atendimentos ocorrem por meio da psicoterapia breve nos ambulatórios de pré-natal, revisão pós-parto ou nas enfermarias da Instituição. Resultados: ao saber do óbito, frequentemente esses pais demonstram perturbação e desamparo. Isso ocorre porque esse bebê real que veio a morte é completamente diferente do filho perfeito que fora idealizado, gerando conflitos psíquicos significativos. Na maioria dos atendimentos, esses pais apresentam sentimentos de fracasso, culpa, inferioridade e ineficiência. Discussão dos resultados: nesse contexto, o psicólogo intenta proporcionar uma facilitação do contato com essa dor, ao permitir que os sentimentos sejam exteriorizados e que a morte seja tratada de forma mais realista. Nesse sentido, orientam-se os pais sobre a importância de rituais de despedida, visando a elaboração saudável desse luto. Conversa-se a respeito da necropsia, respeitando sempre qualquer decisão tomada pelo casal. Incentiva-se que os pais vejam o bebê - tocando e levando ao colo caso queiram -, como forma de proporcionar ao casal o direito de vivenciar a parentalidade dentro de suas possibilidades. Conclusões: o trabalho realizado por psicólogos em casos de OF no CAISM-Unicamp tem surtido efeitos significativos na vida desses casais. Por meio de uma abordagem terapêutica acolhedora e eficiente, o psicólogo permite que a angústia seja atenuada, ressignificando esse sofrimento de maneira que as estratégias de enfrentamento ao luto se tornem cada vez mais fortalecidas. Além do que, pode-se considerar que o trabalho da psicologia tem atendido as necessidades mais emergentes do casal; auxiliando no reconhecimento desse filho como parte de sua história como pais e favorecendo que se transforme em uma lembrança saudável aquilo que já foi um projeto de vida.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Grazielli Terassi, Ananda Agnes de Souza, Liliane Genain Zapparoli, Laise Potério dos Santos