Contos e Encantos: Contribuições do grupo de contação de histórias para pacientes e familiares na enfermaria pediátrica.
Contar histórias é uma arte antiga, que reúne diversas tecnologias e pode se apresentar de diferentes formas em múltiplos contextos. Cada forma e contexto geram diversas interpretações e apropriações. Martinez (2005) ressalta que todos nós guardamos na memória as histórias que ouvimos e cada uma delas pode servir como uma lição, um divertimento ou uma advertência. Percebe-se que a criança, de uma forma lúdica, se envolve com uma narrativa e assim se identifica com os conteúdos do conto, relacionando-os com os seus próprios conflitos psíquicos, ou seja, pode entrar em contato de forma simbólica com seus conflitos e dificuldades (Romaro, 2009). Sabe-se que a hospitalização muda a rotina dos pacientes, acompanhantes e familiares de diferentes formas. A família sofre pelo adoecimento do filho, se desloca de sua casa, acontece alteração financeira no orçamento doméstico, abdicação do trabalho, e pode surgir uma nova configuração de dinâmica familiar (Crepaldi, 2006). As crianças deixam de frequentar a escola, se afastam dos amigos e há um rompimento em suas atividades, sendo afastadas também de seu ambiente lúdico habitual. Dessa forma, o presente trabalho pretende relatar as experiências vivenciadas em grupos de contação de histórias realizados na enfermaria pediátrica de um hospital universitário. O grupo possui como objetivo oferecer um espaço lúdico através da contação de histórias, realizando acolhimento para as crianças e suas famílias. Visa também estimular a interação entre os participantes e a expressão de conteúdos internos. É realizado quinzenalmente na própria enfermaria e possui duração de aproximadamente quarenta minutos, sendo conduzido pela psicóloga da Unidade e duas estagiárias de Psicologia. Conta com uma média de dez participantes por grupo, entre pacientes e acompanhantes/familiares. Os contos são narrados pela psicóloga, com o auxílio das estagiárias, através dos livros com figuras, às vezes utilizando fantoches. Dessa forma, estimulamos os participantes a interagirem com a história contada. Diversas histórias foram contadas, em sua maioria contos clássicos, dentre eles: o Patinho feio, João e Maria, O rato do campo e rato da cidade, A tartaruga e a lebre, A porquinha Chiquita, entre outras. Após, cada participante é estimulado a fazer um desenho livre sobre a história relatada com a cena que mais gostou, sendo solicitado que cada um, caso deseje, mostre o seu desenho no momento final do grupo. Como resultados, percebe-se que os participantes se apropriam do conteúdo e se identificam, fazendo relações com as suas vivências, e imprimem a sua percepção sobre a temática. Portanto, através dos contos e histórias, foi possível abordar discussões sobre questões de convívio social, processo de hospitalização e adoecimento, situações difíceis, gostos e preferências, bem como estimular a imaginação de todos os participantes presentes. Sendo assim, os contos e historias trazidos mostram-se como possibilidades de transformação da realidade, estimulando que os participantes reconheçam estratégias de enfrentamento adaptativas as condições de adoecimento e hospitalização.
BRAGA, C. B. P. ; SOARES, D. C. . Contos Itinerantes. In: IX ENECULT, Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 2013. IX ENECULT, 2013.
CREPALDI, M.L.; LINHARES, B.M.; PEROSA, G.B. (Org.) – Temas em Psicologia Pediátrica. Casa do Psicólogo. São Paulo, 2006.
FERNANDEZ, M.F.S.S. - Efeito das atividades de contação de histórias em crianças hospitalizadas em um hospital universitário. Monografia de conclusão de curso da Residência Integrada Multiprofissional do Complexo Hupes. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2012.
MARTINEZ, A. P. Intervenção em Contar Estória Infantil: Uma relação com os comportamentos de escolha de material escolar e atividades em sala de aula. O portal dos psicologos, 2007.
ROMARO, R.A.; FERNANDES, F.E.S. - O conto de fada como recurso terapêutico no contexto hospitalar. Psicopedagogia On Line, 2009.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.7 Intervenções Individuais ou Grupais no HG
Dielma Castro Soares, Maria Fernanda Schindler Santana Fernandez, Crisllany Amaral Pinheiro