A Atuação do Psicólogo na Desospitalização de Lactentes em Uso de Nutrição Parenteral Total (NPT)
A Nutrição Parenteral Total (NPT) é uma estratégia terapêutica necessária para preservar o estado nutricional e a sobrevida de pacientes com falência intestinal¹. O tratamento dos lactentes dependentes de NPT impõe a necessidade de internação prolongada e de intervenções médicas invasivas, impactando em seu desenvolvimento e na dinâmica familiar². No entanto, quando realizado em ambiente domiciliar, pode possibilitar melhora da qualidade de vida de todos envolvidos³. Nesse contexto, por meio de um relato de experiência, busca-se descrever a atuação do psicólogo hospitalar, em hospital-escola do Sul do Brasil, no processo de desospitalização de pacientes lactentes em uso de NPT. Esta contempla o atendimento pais-bebê e a intervenção psicológica à família durante a internação, a aplicação de um protocolo que avalia as condições familiares para os cuidados com a NPT em domicílio e o acompanhamento psicológico pós-alta em ambulatório multidisciplinar. Durante o período de internação, procura-se trabalhar intensamente o sofrimento emocional associado ao diagnóstico e ao impacto familiar da hospitalização, o qual envolve a parentalidade na situação de doença crônica, as expectativas referentes ao futuro, as mudanças na rotina de vida, o vínculo pais-bebê e, em alguns casos, o afastamento dos outros filhos. Na avaliação psicológica para alta com NPT, visa-se identificar aspectos parentais de cuidado domiciliar do filho dependente de NPT, as noções dos riscos da NPT e procedimentos a serem adotados em caso de intercorrência, a rede de apoio, os sentimentos, expectativas e motivação familiar frente à alta da criança. Já, no pós-alta, realiza-se sistematicamente interconsulta com a equipe médica e atendimento individual às famílias, buscando trabalhar vínculo pais-bebê e a adaptação ao cuidado domiciliar e o retorno à rotina de vida. Diante disso, vem se observando ambivalência familiar em relação à alta hospitalar, que envolve desejo de melhora na qualidade de vida, mas também insegurança e medos em função dos cuidados com a NPT. Nesse sentido, a alta significa a apropriação de uma parentalidade que contempla necessidade de cuidados de saúde e manejo de tecnologias médicas⁴. Ao mesmo tempo, identifica-se o sentimento de tornar-se mãe e pai com a ida para casa, com um fortalecimento do vínculo pais-bebê, pois a maior parte dessas crianças nunca saiu do hospital. Em relação à rede de apoio, evidencia-se uma tendência à centralização dos cuidados do paciente na figura materna, com o suporte dos familiares na organização de demais aspectos da vida, o que inclui o sustento financeiro e o cuidado dos outros filhos. Assinala-se que o resultado desse trabalho auxilia o psicólogo no planejamento de intervenções, as quais possibilitem a reorganização familiar que incide em uma nova adaptação de vida²᾿⁵. Este é constantemente discutido com equipe multidisciplinar, gerando maior compreensão sobre o funcionamento psicodinâmico e processos psíquicos dos envolvidos, auxiliando a mesma no manejo do paciente e de sua família³᾿⁶. Frente ao exposto, nota-se a importância da atuação do psicólogo nesse contexto, podendo auxiliar na melhora a qualidade de vida do paciente e de sua família.
1. Kosar, C., Steinberg, K., de Silva, N., Avitzur, Y., & Wales, P. W. (2016). Cost of ambulatory care for the pediatric intestinal failure patient: one-year follow-up after primary discharge. Journal of Pediatric Surgery, 51(5), 798-803.
2. Stern, J. (2006). Home parenteral nutrition and the psyche: psychological challenges for patient and family. Proceedings of the Nutrition Society, 65, 222–226.
3. Kelly, D. G., Tappenden, K. A., & Winkler, M. F. (2014). Short bowel syndrome: highlights of patient management, quality of life, and survival. Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, 38(4), 427-37.
4. Castro, E. K. de, & Thomas, C. V. (2012). Parentalidade no contexto da doença crônica infantil. In C. A. Piccinini, & P. Alvarenga (Orgs.). Maternidade e paternidade: a parentalidade em diferentes contextos (pp. 253-269). São Paulo: Casa do Psicólogo.
5. Castro, E. K. (2007). Psicologia pediátrica: a atenção à criança e ao adolescente com problemas de saúde. Psicologia: Ciência e Profissão, 27(3), 396-405.
6. Stanger, J. D., Oliveira, C., Blackmore, C., Avitzur, Y., & Wales, P. W. (2013). The impact of multi-disciplinary intestinal rehabilitation programs on the outcome of pediatric patients with intestinal failure: a systematic review and meta-analysis. Journal of Pediatric Surgery, 48, 983–92.
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