MULHER E AIDS: O IMPACTO DO DIAGNOSTICO NA SEXUALIDADE
O diagnóstico de uma doença em si mesma, já pode ser causador de intenso sofrimento e dor, com todas as complicações clinicas de tratamento inserido em seu campo e com as repercussões psíquicas, de acordo com o que essa doença é atravessada por representações e significações no imaginário social. A aids atualmente tem lugar de destaque entre as doenças que mais suscitam tais experiências emocionais, pela sua associação à morte e sexualidade. Na questão das mulheres inseridas na sociedade ocidental, predominantemente cristã, com discursos diferenciados na educação sexual de homens e mulheres, há uma cobrança social pelo comportamento sexual da mulher. Em relatos de atendimentos, principalmente das mulheres que residem no interior do Estado do Pará, “a moral” da mulher está relacionada ao número de parceiros e a sua vida sexual: “a mulher direita”, a mãe de família, casada, ou por outro lado, “a puta”, aquela que é usada para obter prazer, sem nenhum respeito. A descoberta do HIV no corpo pode reeditar, por sua conotação social vinculada a uma sexualidade proibida, “suja”, no dizer de muitos pacientes a “doença do mundo”, questões relacionadas aos aspectos recalcados da sexualidade feminina. Diante do exposto e frente a magnitude desta pandemia que vem atingindo de forma significativa os afetos e a sexualidade de inúmeras mulheres, o presente trabalho visa investigar o impacto na sexualidade de mulheres adultas, a partir do diagnóstico positivo para o vírus HIV, atendidas no Serviço de Assistência Especializada do Hospital Universitário João de Barros Barreto, Belém-Pará. O método utilizado foi a pesquisa qualitativa. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com sete mulheres, onde cinco dessas mulheres não estavam com parceiro fixo e duas possuiam parceiro fixo. A análise das entrevistas, utilizando-se do referencial teórico da psicanãlise, permitiu destacar que a aids acarreta a essas mulheres sofrimento psiquico intenso, relatando preconceitos e estigmas em suas vidas amorosas e sexuais . Como resultado desse estudo observa-se a presença de perdas narcísicas significativas, inibição da vida sexual, vergonha por estarem infectadas com o vírus, ansiedade, medo, culpa pela vivência de sua sexualidade, intenso trabalho de luto e em alguns casos a presença de quadros melancólicos. Assim, como sentirem-se novamente amadas e amar em uma sociedade onde o preconceito volta-se à pessoa que vive com o vírus HIV?
Um forte egoísmo protege contra o adoecimento, mas no final, precisamos começar a amar para não adoecer, e iremos adoecer se, em consequência, não pudermos amar (FREUD, 1914, p. 106).
Penso na clinica psicanalítica como espaço de uma escuta que possa resignificar as vivências traumáticas da sexualidade frente ao HIV. É a partir dos recursos psíquicos encontrados por estas mulheres para lidar com as angústias diante da realidade de um exame confirmatório para o vírus HIV que se investiga os desdobramentos de como essa mulher dará seguimento ao tratamento, aos cuidados consigo e outros aspectos de sua vida, destacando aqui sua vida afetiva e sexual.
FREUD, Sigmund (1914). A guisa de introdução ao narcisismo. Coordenação geral de tradução Luiz Alberto Hanns. Rio de Janeiro: Imago, 2004, v. I
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.4 Saúde do Homem e da Mulher
JUCELIA PEREIRA FLEXA, ARINA MARQUES LEBREGO