Urgência psicológica na UTI: Quando a urgência é da família
A internação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se caracteriza como um momento de ruptura não apenas para o paciente que ali é admitido, mas também para seus familiares, que passam a experienciar sofrimento psíquico e alterações em toda a sua estrutura. Já é sabido que o acolhimento dos familiares é parte fundamental do cuidado global dos pacientes internados nas UTI’s (SOARES, 2007), e que este deve ser realizado por toda a equipe. Entretanto, existem situações muito particulares, e, ao mesmo tempo, bastante frequentes, em que o psicólogo é convocado a responder a uma demanda que escapa às outras profissões, demanda que se caracteriza como Urgência Psicológica Familiar. Desta maneira, o presente trabalho, configurado como relato de experiência, possui o objetivo de compartilhar a experiência clínica de profissionais da psicologia em Unidades de Terapia Intensiva vinculadas a um hospital escola de grande porte do Estado do Paraná. A partir da resposta a essa demanda, que pode urgir perante a admissão de um paciente; no momento de notificação da família sobre a gravidade clínica de seu familiar; perante uma notícia de falecimento ou em outros tantos momentos possíveis da internação, fica demarcado o lugar e a relevância da existência de uma escuta psicológica, assim como o da presença do psicólogo na instituição hospitalar. Consideramos assim que, enquanto as outras profissões possuem respostas para os limites do corpo físico, os psicólogos são os que nada sabem (ainda que saibamos qualquer coisa), e com este não saber, abrimos espaço para a possibilidade da palavra, ou para um posicionamento frente aos atos, que, mesmo sem dizer, dizem. Isto, uma vez que em situações de urgência o sujeito é lançado a um estado inicial de desamparo que rompe com suas prévias referências simbólicas (MOURA, 2000) e imaginárias, configurando uma situação traumática (SIMÕES, 2011). Este é o campo da psicologia: atender a demanda que aos outros não cabe, que corresponde à fala que não se articula ao dizer, ao choro compulsivo, à irracionalidade, ao desespero, à dissociação, ao grito perante o real como ele se apresenta em uma urgência. Consideramos, então, que é com sua presença, e na potência dessa presença, que o psicólogo demarca seu lugar frente às urgências familiares em Unidades de Terapia Intensiva. E que, em situações de urgência, um trabalho articulado e integrado para com os familiares, vindo de toda equipe, dentro das possibilidades de cada profissão, reduz o sofrimento psíquico daqueles que acompanham o paciente em sua internação, possibilitando, inclusive, que este encontro dos sujeitos com o real seja menos aniquilador.
MOURA, Marisa Decat de (ORG). Psicanálise e hospital. 2ª edição. Revinter: Rio de Janeiro, 2000.
SOARES, Márcio. Cuidando da família de pacientes em situação de terminalidade internados na unidade de terapia intensiva. Rev. bras. ter. intensiva, São Paulo , v. 19, n. 4, p. 481-484, dez. 2007 . Disponível em
SIMÕES, Carolina Leal Ferreira. A clínica da urgência subjetiva: efeitos da psicanálise em um pronto-atendimento. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Belo Horizonte, 2011.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.2 Saúde Mental do Paciente, Família e Equipe
Hospital de Clínicas - Universidade Federal do Paraná - Paraná - Brasil
Stephanie Cristin Otto, Taynara Gomes Do Vale, Hélcio dos Santos Pinto, Henrique Shody Hono Batista