11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE NO CONTEXTO DA ASSISTÊNCIA OBSTÉTRICA: NOTAS SOBRE A (DESTITUIÇÃO DA) AUTONOMIA FEMININA NO PERÍODO GESTACIONAL

Resumo

O presente trabalho aborda o atual modelo brasileiro de assistência obstétrica e suas interfaces com a autonomia feminina, visando apresentação de aspectos importantes a partir de uma revisão sistemática de literatura de abordagem qualitativa. Cabe destacar que, embora propomos uma discussão à luz dos saberes da Psicologia, trabalhamos com autores oriundos de outras disciplinas, considerando a importância de outros olhares. Propomos como questão norteadora investigar se as políticas públicas de assistência obstétrica consideram e respeitam a liberdade e a singularidade das mulheres. Realizamos breve resgate sobre a história da mulher e as políticas de atenção ao parto, sendo possível compreender que as estruturas sociais influenciam o conceito e a história das mulheres e tem perpetuado práticas em prejuízo delas, algumas vezes em nome de tradições culturais e religiosas, como a Mutilação Genital Feminina e o femicídio por motivo de honra. As violações contra as mulheres tem atravessado limites geracionais e tem múltiplas expressões. É nesse sentido que, Simone De Beauvouir (1970, p. 13) retrata, sobre a mulher, que “por mais longe que se remonte na história, sempre estiveram subordinadas ao homem: sua dependência não é conseqüência de um evento ou de uma evolução, ela não aconteceu”. No Brasil, o cenário violador tem outras roupagens, no entanto, também são práticas que evidenciam relações de poder, como a violência contra a mulher que está presente no ambiente doméstico, trabalhista e, inclusive, hospitalar. Com a institucionalização da assistência ao parto surge uma nova forma de violência: a violência obstétrica, que vai além de xingamentos e gritos com a gestante, mas envolve um conjunto de violações que retira da mulher sua capacidade e poder de decisão. Os hospitais que, historicamente, eram casas de assistência aos peregrinos, pobres e enfermos (BRASIL, 1965) torna-se um espaço hostil, de desamparo e sofrimento. O estudo realizado por Leister e Riesco (2013) apresenta depoimentos de mulheres que viveram a experiência do parto em momentos históricos diferentes, entre os anos de 1940 a 1980, sendo divididas em primeira geração, com parto no ambiente domiciliar, e segunda geração, de partos em hospitais. Estas últimas referem entre outros, sentimento de medo, falta de privacidade, exposição da intimidade, rigidez das rotinas hospitalares e dos procedimentos invasivos, episiotomia e falta de informações. Face ao exposto, esse estudo torna-se importante tendo em vista a necessidade de uma reflexão acerca da destituição da autonomia feminina e dos inúmeros atos cometidos, amiúde, contra particularidades e desejos da mulher grávida nas unidades de saúde. É necessário pensar no rompimento com processos cristalizados que engessam as práticas dos diversos profissionais de saúde, considerando que a Psicologia Hospitalar pode ofertar grandes contribuições e novos olhares em prol de ações que evidenciem a mulher como protagonista de sua história. A partir dos dados coletados, é importante destacar que, em termos legais, o sistema de saúde brasileiro consiste em avançada forma de gestão de cuidados da saúde da população. Não difere, nesse sentido, as políticas relacionadas à saúde da mulher no ciclo gravídico, porém é desafiador sua plena implementação.

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Briena P., AGGIO, Cristiane de M. Violência Obstétrica: a dor que cala. In. III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, 2014, Londrina. ISSN 2177-8284.
BEAUVOIR, Simone De. O segundo sexo: Fatos e Mitos. 4ª Ed. Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1970.
BRASIL, Lei Nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm Acesso em 20/02/2017.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em 20/02/2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento Nacional de Saúde. Divisão de Organização Hospitalar. História e evolução dos hospitais. Rio de Janeiro, 1965.
CRUZ, José Raimundo Gomes da. Desigualdades persistentes em prejuízo da mulher. Revista Eletrônica de Direito Público - e-Pública. Vol. I. Nº 2, Junho de 2014, p. 518-538. ISSN 2183-184X.
GOMES, Isabelle Sena, CAMINHA, Iraquitan de Oliveira. Guia para estudos de revisão sistemática: uma opção metodológica para as Ciências do Movimento Humano. Movimento; Porto Alegre, v. 20, n. 01, p. 395-411, jan/mar de 2014.
LEISTER, Nathalie, RIESCO, Maria Luiza Gonzalez. Assistência ao parto: História oral de mulheres que deram à luz nas décadas de 1940 A 19801. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2013 Jan-Mar; 22(1):166-74.
MATOS, G. C. de, ESCOBAL, A. P. et al. A trajetória das políticas de atenção ao parto no Brasil: uma revisão integrativa. Revista de Enfermagem UFPE [On Line]. Recife, 2013, ISSN 1981-8963.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. ONU organiza debate sobre erradicação da Mutilação Genital Feminina. . Acesso em 04/11/2016.
VIEIRA, Elizabeth Meloni. A medicalização do corpo feminino. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2002.

Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.4 Saúde do Homem e da Mulher

Autores

Bruna Pereira Silva, Juliana Fernandes de Souza Ribeiro