Efeitos da Atividade Assistida por Animais e sensação de dor autorreferida em crianças e adolescentes hospitalizados
INTRODUÇÃO: A Intervenção Assistida por Animais (IAA) é uma abordagem que vem sendo introduzida em ambiente hospitalar com objetivo de melhorar a qualidade da internação trazendo importantes benefícios no manejo de pacientes. A opção metodológica de desenvolver esse projeto vem ao encontro do interesse crescente dessas instituições em introduzir os animais durante o período de hospitalização. OBJETIVO: avaliar os efeitos da Atividade Assistida por Animais (AAA) em crianças e adolescentes hospitalizados na expressão verbal e qualidade da dor autorreferidas. MÉTODO: Casuística: 17 crianças/adolescentes hospitalizados, de ambos os gêneros, com idade a partir de 7,0 anos e queixa de dor, em hospital infantil na cidade de São Paulo. Cães co-terapeutas: dois cães (Old English Sheepdog e Shihtzu) de acordo com critérios de protocolos internacionais. Procedimento: Aplicou-se Escala Numérica de Dor e questão aberta (“Conte-me como é sua dor”), sem a presença do cão. Realizou-se AAA com duração de 05 a 10 minutos, com atividades propostas espontaneamente pelos sujeitos. Reaplicaram-se a escala e a questão aberta. Critérios de avaliação: Realizou-se análise descritiva dos dados por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central e dispersão. Para análise inferencial, verificou-se aderência à curva normal pelo teste de Komolgorov-Smirnov da variável de desfecho e teste t-student pareado. Assumiu-se um nível descritivo de 5% (p<0,05) para significância estatística. A interpretação da questão aberta foi pautada na análise categorial que propõe reorganização do discurso pela investigação de categorias temáticas estabelecidas à posteriori de acordo com incidência e relevância. RESULTADOS: Nesta população, há evidências estatisticamente significativas de que a AAA demonstrou eficácia quanto à redução da sensação de dor dos sujeitos (p=0,004), além de reduzir aspectos emocionais indesejáveis envolvidos na hospitalização. O conteúdo da questão aberta foi classificado em quatro categorias: 1. Sensação; 2. Parte do corpo; 3. Intensidade da dor; 4. Comentários gerais. Observou-se que as respostas sugeriram diminuição da sensação de dor e melhora no bem-estar dos sujeitos. DISCUSSÃO: Os resultados indicam que AAA interferiu na diminuição da sensação de dor. Pode estar associado a efeitos metabólicos advindos desse tipo de interação, pois durante o contato humano-animal tendem a ocorrer alterações hormonais importantes como estímulo da produção de endorfina, induzindo sensação de bem-estar. Podemos considerar que o cão tem capacidade de dar continência a sentimentos e sensações negativos, neutralizá-los e potencializá-los para que o paciente se torne mais tolerante à internação, além de substituir a ausência de afeto dando contenção ao desamparo. AAA promoveu efeitos psicológicos positivos nos sujeitos como: humor/sorrisos; sociabilidade/conversas; motivação/levantar-se da cama; sentimentos depressivos/parar de chorar. A proposta não é a de indicar a IAA como opção isolada para o tratamento de dor, mas como intervenção complementar à abordagem humanizada da saúde. CONCLUSÃO: Houve diminuição significativa da sensação de dor após AAA, nesta população. Verificou-se que possivelmente há elaboração simbólica do sujeito sobre sua dor, já que o cão pode representar acolhimento e afeto no período de hospitalização.
BARKER, S. B.; DAWSON, K. S. The Effects of Animal-Assisted Therapy on Anxiety Ratings of Hospitalized Pychiatric Patients. Psychiatric Services, v. 49, n. 6, p. 797-802, 1998.
CAPRILLI, S.; MESSERI, A. Animal-Assisted Activity at A. Meyer Children Hospital: A Pilot Study. eCAM, v. 3, n. 3, p. 379-83, 2006.
LEFEBVRE, S. L. et al. Guidelines for animal-assisted interventions in heath care facilities. American Journal of Infection Control, v. 36, n. 2, p. 78-85, 2008.
MARCUS, D. A. et al. Animal-Assisted Therapy at an outpatient pain management clinic. Pain Medicine, v. 13, p. 45-57, 2012.
MORALES, L. J. Visita terapêutica de mascotas em hospitales. Rev. Chil. Infect., v. 22, n. 3, p. 257-263, 2005.
KAMINSKI, M.; PELLINO, T.; WISH, J. Play and pets: the physical and emotional impact os childlife and pet therapy on hospitalized children. Children’s Health Care, v. 31, p. 321-335, 2002.
KAMIOKA, H. et al. Effectiveness of animal-assisted therapy: a systematic review of randomized controlled trials. Complementary Therapies in Medicine, v. 22, p. 371-390, 2014.
SOBO, E. J.; ENG, B.; KASSITY-KRICH, N. Canine visitation (pet) therapy: pilot data on decreases in child pain perception. Journal of Holistic Nursing, v. 24, p. 51-7, 2006.
WU, A. S. et al. Acceptability and Impact of Pet Visitation on a Pediatric Cardiology Inpatient Unit. Journal of Pediatric Nursing, v. 17, n. 5 (October), p. 354-362, 2002.
BRAUN, C. et al. Animal-assisted therapy as a pain relief intervention for children. Complementary Therapies in Clinical Practice, v. 15, p. 105-109, 2009.
COLE, K.; GAWLINSKI, A. Animal-assisted therapy: the human-animal bond. Amercian Association of Critical-care Nurses Clinical Issues, v. 30, p. 529-37, 2000.
ODENDAAL, J. S.; MEINTJES, R. A. Neurophysiological correlates of affiliative behavior between humans and dogs. The Veterinary Journal, v. 165, p. 296–301, 2003.
4. Modelos de Prevenção e Promoção da Saúde em Diferentes Contextos - 4.4. Terapia assistida por animais
PUC-SP - São Paulo - Brasil
Tatiane Ichitani, Annelisa Bruna Faccin, Glicia Ribeiro Oliveira, Raisa Schenkman Uliana, Maria Claudia Cunha