Avaliação de estresse em pacientes hospitalizados em unidade de internação neurológica de um Hospital Geral
O adoecimento é um agente potencialmente estressor e quando associado à hospitalização, provoca diferentes reações físicas e emocionais, pois acarreta alterações na vida cotidiana, redefinindo papéis, além de oferecer a sensação de vulnerabilidade (CAMPOS, 1995; BOTEGA, 2006). Além disso, sentimentos diversos emergem quando se trata de hospitalização, como medo de perder funções, autonomia e medo da morte, entre outros (BOTEGA, 2006). Sem contar que o sujeito ocupa um novo papel ao qual não teve escolha, compartilha um ambiente com pessoas estranhas, submete-se a procedimentos, expõe sua intimidade, afasta-se das tarefas costumeiras e do convívio social (ROMANO, 1999). O presente artigo foi pautado num estudo transversal, quantitativo, realizado com pacientes internados por no mínimo três dias no setor de neurologia de um Hospital Geral no interior do estado de São Paulo, no período de junho a agosto de 2016. O objetivo deste estudo foi avaliar o nível de estresse de tais pacientes. Os instrumentos utilizados foram o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (ISSP), entrevista semiestruturada para identificação, histórico da patologia e dados sociodemográficos e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O estudo foi submetido à aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Franca e os princípios éticos da resolução CNS 466/2012 foram adotados. Como resultados, foram entrevistados 43 participantes, sendo que 65% foram homens e 35% mulheres, apresentando faixa etária de 19 a 80 anos, com maior frequência das idades de 50 a 60 anos (42%), quanto à situação laboral 68% se encontravam afastados ou aposentados e estavam internados pelos seguintes motivos: lombalgia, acidente vascular cerebral, acidente vascular cerebral isquêmico e traumatismo cranioencefálico. Na avaliação dos níveis de estresse foram identificados 67% dos participantes com pontuação significativa de estresse, enquadrando-se em uma das quatro fases do modelo quadrifásico de estresse de Lipp, 17% encontraram-se na fase de alerta, 76% na fase de resistência, 7% na fase de quase exaustão. A prevalência sintomatológica foi de 48% em sintomas psicológicos e 41% de sintomas físicos e 11% que apresentaram igualdade de manifestações de sintomas físicos e psicológicos frente ao estresse, indicando sintomatologia mista. Lipp e Malagris (2001) definem estresse como uma reação do organismo que ocorre quando o indivíduo precisa lidar com situações que exijam um grande esforço emocional para serem superadas, desse modo, o estresse faz parte da vida cotidiana, porém, quando os recursos de enfrentamento ficam sobrecarregados pode haver prejuízo da saúde do indivíduo. Concluímos com o presente estudo que a hospitalização pôde ser observada como agente estressor ao evidenciar um elevado índice de estresse encontrado nos pacientes, indicando destaque para a fase de resistência e com predominância de sintomas psicológicos. Além disso, o conhecimento de fatores como idade, escolaridade e situação laboral puderam favorecer a identificação da população atendida e propor ações direcionadas às características desta população. O elevado índice de estresse apontado neste estudo propiciou uma reflexão sobre a necessidade de intervenção psicológica nesta população, com o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento para estes pacientes lidarem melhor com adoecimento e a hospitalização.
BOTEGA, N. J. Prática Psiquiátrica no Hospital Geral. Porto Alegre: Artmed, 2006.
CAMPOS. T. C. P. Psicologia Hospitalar. São Paulo: EPU, 1995.
LIPP, M. E. N.; MALAGRIS, L. E. N. O Estresse Emocional e seu Tratamento. In: B. Rangé (org).Terapias cognitivo comportamentais: Um diálogo com a Psiquiatria. São Paulo: Artmed, 2001.
ROMANO, B. W. Princípios para prática da Psicologia Clínica em Hospitais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.2 Saúde Mental do Paciente, Família e Equipe
UNIVERSIDADE DE FRANCA - São Paulo - Brasil
Ligia Peres Tozati, Auany Fernandes Monteiro, Ana Flávia da Silva