Possibilidades de cuidado psicológico em Casa de Apoio junto a pacientes oncológicos: Relato de Experiência
O tratamento das neoplasias é de alta complexidade, requerendo recursos tecnológicos e científicos para sua realização, disponíveis, muitas vezes, apenas nas cidades de grande porte. Com isso, o acesso ao cuidado torna-se dificultado, exigindo que os pacientes provenientes de municípios menores se desloquem constantemente até os centros oncológicos especializados, implicando em maior desgaste físico, financeiro e emocional. Então, visando reduzir os danos advindos desse processo, surgiram propostas de locais, nos municípios de tratamento, que abrigassem e acolhessem as necessidades dos pacientes: as casas de apoio, que oferecem assistência e cuidado a uma clientela específica que vivencia situação de maior vulnerabilidade, exercendo a função de “lar provisório”. Nesse contexto, torna-se relevante a atuação da Psicologia, oferecendo suporte para o enfrentamento do câncer e do intricado processo de tratamento decorrente. O presente trabalho visa relatar a experiência de cuidado psicológico, a partir de um programa de estágio, em uma casa de apoio para pacientes sob tratamento oncológico em Unidade de Assistência de Alta Complexidade (UNACON) localizada na cidade de Fortaleza/CE. Nesta casa de apoio, a maioria dos pacientes eram idosos advindos de cidades do interior do Ceará, normalmente em condição de vulnerabilidade social. Os cânceres de próstata e de mama apresentaram-se como os mais incidentes entre homens e mulheres residentes na casa, respectivamente. A casa de apoio oferecia suporte principalmente na condução do tratamento radioterápico, que era realizado em dias consecutivos, tornando-se inviável para aqueles que precisassem se deslocar diariamente de suas cidades de origem. Os pacientes contavam com acompanhamento nutricional, psicológico, social, entre outros. O fluxo de atendimento psicológico tinha início com a busca ativa de pacientes recém-chegados à casa, seguida do processo de avaliação psicológica, por meio de instrumento específico, para que a conduta de acompanhamento psicológico fosse definida. Eram realizados atendimentos individuais e intervenções grupais com os usuários do serviço. Apesar de representar suporte para os pacientes, a estadia na casa de apoio implicava em desafios advindos do afastamento de sua rotina usual (alimentação diferenciada ou distância de familiares e amigos, por exemplo), exigindo estratégias de enfrentamento para a nova situação. Alguns pacientes redescobriam, a partir da experiência, sua capacidade de autocuidado e autonomia, desenvolvendo a autoestima. O psicólogo atuava na criação de vínculo com o sujeito, favorecendo um espaço terapêutico que propiciasse a expressão de emoções, podendo reforçar os mecanismos de enfrentamento adequados à situação vigente. Em muitos pacientes, eram observadas fantasias acerca do câncer, sendo papel do profissional utilizar linguagem simples e clara, possibilitando a comunicação efetiva, podendo ser realizadas intervenções psicoeducativas, individuais ou conjuntas às outras categorias, visando investir o sujeito de autonomia na condução do tratamento. A casa de apoio em questão constitui-se em iniciativa relevante para a condução do tratamento oncológico, contando com uma equipe multiprofissional de apoio. Nesse cenário, a Psicologia tem papel fundamental, atuando junto ao paciente, bem como na relação deste com a equipe que oferece os cuidados, favorecendo recursos de enfrentamento pessoais para o sujeito e intervenções amplas que auxiliem na adesão ao tratamento oncológico.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.5 Doença Crônica e Dor ao longo do Ciclo da Vida
Universidade Federal do Ceará - Ceará - Brasil
Anamaria Araújo e Silva Barbosa