Psico-oncologia e a influência do modelo cognitivo no enfrentamento do câncer: estudo de caso.
Introdução: O enfrentamento do câncer é influenciado pela forma como cada paciente se percebe nesse processo, pelas variáveis emocionais vivenciadas e pelas particularidades da doença e dos tratamentos, sendo uma experiência única. Para a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), o modelo cognitivo de cada sujeito tem papel fundamental na forma como ele age e reage às situações, através do funcionamento dos pensamentos automáticos e das crenças. Se o paciente apresenta crenças disfuncionais quanto ao seu adoecimento, a influência do seu modelo cognitivo pode interferir negativamente no enfrentamento e na adesão ao tratamento.
Objetivo: Avaliar a influência do modelo cognitivo no enfrentamento do câncer, através da aplicação das técnicas da terapia cognitivo-comportamental na prática da psico-oncologia.
Metodologia: Estudo de caso com paciente portadora de câncer assistida pelo Laboratório de Psico-oncologia da Universidade de São Paulo. Foi realizado processo terapêutico sistematizado, em 12 sessões, com base nas práticas da terapia cognitivo-comportamental direcionadas ao adoecimento do câncer.
Resultados: F., 39 anos, solteira, sem filhos, motorista de taxi e com diagnóstico de câncer de colo do útero. Na primeira consulta, queixou-se de dor, ansiedade, insônia e dificuldade de lidar com o diagnóstico. Durante as 12 sessões de psicoterapia, foram aplicadas diversas técnicas cognitivas e/ou comportamentais conforme a demanda da paciente, tendo como destaque relaxamento, treino de assertividade, psicoeducação, identificação de pensamentos automáticos e restruturação cognitiva. Ao final, F. identificou que houve diminuição de dor em função de suas mudanças comportamentais e de atitude; relata que aprendeu que precisava se poupar, passou a escolher e impor limites quanto às atividades diárias, bem como a ser mais assertiva com seus familiares. O treino de assertividade, além de ter sido útil para lidar com dificuldades de comunicação com pessoas próximas, fui importante para tirar dúvidas e entender melhor o seu adoecimento, permitindo, assim, ser mais ativa no plano de tratamento em conjunto com a equipe. O relaxamento teve papel importante no manejo de ansiedade, insônia e falta de concentração em atividades diversas, como ver um filme ou ler um livro.
Conclusão: As técnicas da TCC, principalmente a psicoeducação quanto ao funcionamento do modelo cognitivo e como este influencia suas emoções e comportamentos, teve efeito positivo no enfrentamento do câncer e na adesão ao tratamento. A possibilidade de ter um espaço onde pôde abordar questões sobre seu adoecimento, medos e insegurança sobre o tratamento e suas consequências, trouxe ferramentas para que ela lidasse com ansiedade, insônia e questionamentos/crenças a respeito do adoecimento como um todo. F. passou a ser mais ativa no seu processo saúde-doença, pontuando suas necessidades e impondo limites quando achava necessário. Mesmo sendo encarado por muitos como condições inerentes ao tratamento oncológico, as variáveis psicológicas, sociais e as dificuldades com questões práticas podem influenciar negativamente, potencializando, assim, o sofrimento do paciente. A assistência ampla e integrada, envolvendo as diversas demandas, permitiu a adequada identificação e tratamento de variáveis que estavam causando prejuízos significativos, auxiliando, assim, no enfrentamento do câncer e na qualidade de vida da paciente.
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5. Novas Tecnologias, Gestão e Formação em Psicologia Hospitalar e da Saúde - 5.6 Produção Científica em Psicologia da Saúde e Hospitalar
Universidade de São Paulo - São Paulo - Brasil
Anali Póvoas Orico Vilaça, Elisa Maria Parahyba Campos Rodrigues