RELATO DE EXPERIÊNCIA: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR E O LUTO ANTECIPATÓRIO
O trabalho foi elaborado a partir de uma experiência de atividade extra-curricular de atendimento psicológico realizada em hospital no interior de São Paulo vinculada ao curso de Psicologia da UNAERP. A característica do trabalho do psicólogo hospitalar refere-se ao atendimento dos usuários e seus familiares, especialmente em casos de agravamento da doença. As intervenções são benéficas para o paciente e seus familiares, diminuindo a probabilidade de sintomas psicopatológicos futuros, decorrentes de um processo de luto vivenciado com dificuldades e restrições. O objetivo consistiu em apresentar um relato de experiência sobre a atuação do psicólogo, embasado na fenomenologia existencial, com a família do paciente no contexto de agravamento, luto antecipatório e morte. Foram realizados três atendimentos com Ana (nomes fictícios), filha de Beatriz, uma senhora de 100 anos, internada com o diagnóstico de Trombose Venosa Profunda. Segundo os médicos, os nove filhos precisavam decidir se a mãe realizaria ou não a operação para amputar a perna direita. Ana, cuidadora principal, era contra a operação, argumentando que “não há mais saída, ela vai morrer”. Durante os atendimentos, mencionou um conflito entre os irmãos: cinco eram a favor da cirurgia e quatro eram contra. Sua angústia se destacava por ter que tomar essa decisão em dois dias e seu irmão mais velho vir a autorizar a operação. A psicóloga, inicialmente, buscou informações com o cirurgião que afirmou já ter feito uma reunião com os filhos comunicando os prós e os contras do procedimento. Em seguida verificou se todos os filhos possuíam claramente as informações médicas sobre a cirurgia; acolheu as dúvidas e ansiedade da filha; proporcionou espaço para que expusesse seus sentimentos e, principalmente, não direcionou qualquer escolha. Optaram pela realização da cirurgia e após a amputação, com sucesso, durante a cirurgia ocorreu uma parada cardíaca. Beatriz vai para UTI em cuidados paliativos. Ana foi orientada pelo médico que os filhos deveriam se preparar para se despedirem da mãe que parecia ter poucas horas de vida. Em um novo momento de atuação, a psicóloga, a pedido de Ana, a acompanha com o médico na visita na UTI, ou seja, para a despedida. Em menos de dez horas, Beatriz morreu e a filha repetia por diversas vezes que “a culpa da morte foi dos irmãos.” Dessa forma a atuação da psicóloga volta-se então para o acolhimento do sofrimento da filha, validando os sentimentos de perda e proporcionando espaço para a expressão de suas emoções, apontando, inclusive, a necessidade de nomear um culpado para a situação, amenizando a dor da perda. Os resultados da atuação psicológica constituíram-se essencialmente na construção e acompanhamento do processo de luto, que ocorreu de forma antecipatória e, dessa maneira, criou a oportunidade de uma despedida, bem como da expressão de sentimentos. Concluiu-se que a atuação do psicólogo se destacou por humanizar a relação: família, paciente e equipe, proporcionando o acolhimento e abertura para a busca de sentido de Ana diante de sua perda.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Juliana; Vendruscolo, Bruna Caroline Turse Barroso, Luciane Cerdan Del Lama