11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

Atendimento psicológico de uma criança incendiada: (re) conectando sentidos

Resumo

No Brasil, as queimaduras representam um problema grave de saúde pública. Vítimas de cicatrizes física e psicológicas, os pacientes queimados são avassalados por uma dor intensa e profunda. A proposta deste trabalho é apresentar e discutir questões concernentes ao acompanhamento psicológico de um menino de 07 anos, vítima de queimadura em 70% do seu corpo, internado no Hospital Ferreira Machado, hospital de emergência, localizado em Campos dos Goytacazes, RJ. O objetivo foi preparar o paciente para enfrentar o fantasma da morte, o luto pelo corpo perdido e a dor decorrente das lesões. O paciente foi acolhido em sua hospitalização, nos momentos difíceis do tratamento como o enfrentamento da dor, assim como o reconhecimento das sequelas e perdas impostas ao próprio corpo. A dor dilacerante do paciente queimado relaciona-se com as atividades rotineiras e específicas do tratamento, tais como processo de limpeza da ferida, debridamento, enxerto, troca de curativos e fisioterapia. O paciente queimado apresenta grande dificuldade de aceitação e elaboração da autoimagem danificada, seja por seu aspecto estético atormentador e definitivo, ou por sequelas e preconceitos sociais vivenciados e gerados pelo próprio paciente. O método utilizado foi o acompanhamento psicológico diário e sistemático da criança, na unidade de terapia intensiva pediátrica, na porta do centro cirúrgico, na enfermaria pediátrica, possibilitando assim o atravessamento da fantasia de morte e elaboração das perdas. A parceria interdisciplinar foi de fundamental importância para um manejo de forma harmoniosa e humanizada das demandas da criança e da família no ambiente hospitalar, propiciando a adesão do paciente ao tratamento (SIMONETTE, 2004). Os resultados mostram a redução dos efeitos negativos da internação, adaptação da criança ao ambiente hospitalar, redução da fragilidade emocional e o estabelecimento de laços afetivos tanto com a equipe, quanto com familiares. A enfermaria, local considerado pela criança insuportável e atormentador se transformou na segunda casa do paciente. A partir da transferência (FREUD, 1912) estabelecida com os profissionais de saúde, foi possível resgatar as relações afetivas da criança com as figuras parentais e com os amigos, bem como a construção de novos laços afetivos com outros pacientes internados e com a equipe que o assistia. Os atendimentos e a evolução do paciente mostraram que o psicólogo hospitalar foi o grande diferencial no atendimento humanizado prestado, pois possibilitou a criança enfrentar os momentos difíceis como, por exemplo, o reconhecimento das cicatrizes e sequelas que remetiam à fantasia inconsciente de castração e morte. O atendimento psicológico possibilitou ao paciente queimado lidar com o corpo mutilado, a autoimagem e a ferida narcísica, reduzindo o pathos. O trabalho do psicólogo contribuiu de forma uníssona no manejo assertivo das estratégias de atendimento para o paciente e sua família, facilitando assim as relações com a equipe, aceitação dos procedimentos técnicos e o envolvimento do paciente em sua própria recuperação e bem-estar durante todo o processo de internação. Após a alta a criança foi encaminhada para ambulatório de psicologia da rede municipal de saúde.

Referências Bibliográficas

ANGERAMI-CAMON (Org.). Psicologia Hospitalar: Teoria e Prática. Pioneira: São Paulo, 2002.
FREUD, S. A dinâmica da transferência. In Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro, Imago, 2006, Vol. XII. Texto originalmente publicado em 1912.
NEVES, S. M. Eu-pele, psicossomática e dermatologia: nos limites da palavra, da transferência e do corpo: a pele. In: Volich, R. M.; Ferraz, F. C. & Rocha, W. (Orgs.). Psicossoma III – Interfaces da Psicossomática. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. (pp. 359-369).
SIMONNETTI, A. (2004). Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa do psicólogo.
SPINK, M. J. P. Psicologia social e saúde: práticas, saberes e sentidos. 4. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto

Autores

Valesca do Rosário Campista