Terminalidade em UTI: O processo de tomada de decisão da família
Introdução: Diante dos avanços das biotecnologias nas ciências da saúde, pode-se optar entre uma série de posicionamentos adotáveis nos limites do fim da vida em UTI, como os cuidados paliativos, o tratamento intensivo, a recusa ou a suspensão de tratamentos fúteis, entre outros. O debate acerca da questão da tomada de decisão neste contexto torna-se imprescindível, em especial, considerando que o paciente encontra-se frequentemente sedado, cabendo ao seu representante legal e/ou familiar a decisão sobre seu processo do morrer. Objetivo: O presente estudo é parte de uma investigação mais ampla acerca das repercussões da terminalidade em UTI para a família do paciente gravemente enfermo, e tem como objetivo investigar a percepção dos familiares acerca do processo de tomada de decisão nos cuidados finais da vida. Método: Realizou-se uma pesquisa exploratória com método qualitativo, na qual foram entrevistados seis familiares de pacientes gravemente enfermos internados na UTI de um hospital privado. Da análise do material emergiram cinco categorias de análise. Neste trabalho, serão discutidas as categorias processo de tomada de decisão e relação com a equipe médica. Os familiares entrevistados, cuja idade variou entre 55 e 79 anos, têm as seguintes relações de parentesco com os pacientes selecionados: cônjuges (3), filhos (2) e mãe (1). A religião predominante é a católica (80%). Em relação aos pacientes, a idade oscilou entre 40 e 93 anos, os diagnósticos prevalentes foram câncer e cirrose hepática e o tempo de internação na UTI foi bastante diversificado, variando entre 5 e 173 dias. Os participantes assinaram TCLE e a pesquisa foi aprovada pela Plataforma Brasil. Resultados: Os resultados evidenciaram que os familiares mostraram-se satisfeitos com a comunicação com os membros da equipe de saúde, aspecto importante para o processo de tomada de decisão. Neste processo prevaleceu o modelo compartilhado, a priorização de medidas paliativas e a identificação de medidas fúteis, a fim de garantir o conforto e a dignidade do processo do morrer do paciente. Evidenciou-se a busca de integração dos cuidados paliativos aos cuidados intensivos em UTI, mormente em situações finais de vida. Conclusão: Decisões sobre fim de vida em UTI são complexas e não se restringem simplesmente a escolhas técnicas; envolvem uma teia relacional - médicos e equipe de saúde, com seus conhecimentos específicos em cada uma de suas áreas do saber, e os pacientes e suas famílias, com as suas biografias, identidades, desejos e preferências únicas. Este encontro singular torna o cuidado de fim de vida dramaticamente variável devido às inúmeras diferenças e peculiaridades de cada situação e de cada relação estabelecida. Neste cenário, ressaltamos a importância do psicólogo hospitalar na equipe de saúde da UTI, tendo como uma de suas tarefas, facilitar a comunicação entre o trinômio paciente – família – equipe, criando espaço para que os anseios em relação ao desgaste emocional presentes no ambiente da terapia intensiva possam ser expressos.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Clínica São Vicente - Rio de Janeiro - Brasil, Pontifícia Universidade Católica - Rio de Janeiro - Brasil
Mayla Cosmo Monteiro, Andrea Seixas Magalhães