Profissional de saúde e tentativa de suicídio: percepções dos adolescentes assistidos
INTRODUÇÃO - Os adolescentes que tentam se matar estão presentes na população em geral e se faz mister prevenir a tentativa de suicídio e, principalmente, sua reincidência(1). O comportamento suicida se mostra como sinal de alarme, traduzindo fracasso no processo da adolescência e se contrapondo à essência do existir dessa fase(2). Ambos se apresentam como grandes desafios para os profissionais da saúde e da educação, sem deixar de ser, talvez, o mais incômodo problema para pais e familiares. OBJETIVO - Buscar compreender percepções, sentimentos e atitudes de adolescentes que tentaram o suicídio acerca dos profissionais de saúde que os assistem no hospital quando do ato. METODOLOGIA - Pesquisa qualitativa, com dados levantados por meio de entrevistas semiestruturadas com adolescentes que deram entrada em unidade de emergência de hospital público e foram atendidas pelo CIATBH, no período de junho de 2008 a julho de 2009. Critérios de inclusão: admissão no HPS por tentativa de suicídio, idade entre 12 e 17 anos, utilização de medicamentos como meio de autoextermínio e ausência de comorbidades diagnosticadas previamente à internação. Projeto aprovado COEP/UFMG (ETIC 490/07), e também pelo CEP/FHEMIG (55/08). Após todas as entrevistas a pesquisadora se colocavou disponível para atendimento clínico, sem fins da pesquisa. RESULTADOS - Segundo os adolescentes, a reação dos profissionais que os atenderam foi de crítica e julgamento, justo o que eles achavam que não deveria ser feito. Outra observação relevante, principalmente no tocante à prevenção de novas tentativas, foi a elevada frequência de prescrição de medicamentos pelos médicos que os atenderam após o encaminhamento. Percebe-se que o excesso de medicalização observado no ambiente familiar era reforçado no contato com o médico. Os entrevistados disseram não gostar de tomar esses remédios e não os usavam de forma regular. Talvez não gostassem de medicamentos porque pensassem que remédios são para tratar algum adoecimento, e nos pareceu que os adolescentes entrevistados não sentiam sofrer de nenhuma patologia. O adolescente que atentou contra sua vida precisa entrar em contato com o sentido que a tentativa de suicídio tem para ele. Os relatos dos entrevistados mostraram que alguns profissionais que os atenderam após a tentativa tiveram uma postura oposta ao que preconiza a literatura, sugerindo preconceitos e dificuldades para lidar com o fato. CONCLUSÕES - Além de conhecer precisamos buscar maneiras mais efetivas de intervenção. O sistema público de saúde se mostrou acessível para o acompanhamento dos casos, apesar de ainda não conseguir adesão ao tratamento. Notamos que há falta de preparo no acolhimento primário. Os profissionais que fazem o primeiro atendimento a essa população, apesar de trabalharem com a iminência da morte precisam se preparar para o acolhimento daqueles que procuram por ela não como escolha, mas como única possibilidade de alívio, de saída de uma situação de um sofrimento que domina a vida. Precisamos buscar soluções para o paradoxo de salvarmos a vida de quem atentou contra ela. Percebemos evoluirmos do espaço de diagnosticar para o do cuidar. Políticas de prevenção devem ter como foco
(1). Bertolote JM, Fleischmann A. A global perspective on the magnitude of suicide mortality. In: Wasserman D, Wasserman C (ed.). Oxford textbook of suicide and suicide prevention. Oxford: Oxford University Press. 2009. p. 91-98.
(2)Sampaio D. Ninguém morre sozinho: o adolescente e o suicídio. Lisboa: Caminho; 1999.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.1 Atenção Integral à Criança e ao Adolescente no Contexto de Saúde e Doença
UFMG - Minas Gerais - Brasil
Marília Ávila de Freitas Aguiar, Eudardo Carlos Tavares, Cristina Gonçalves Alvim