EXPERIÊNCIA DE SENSIBILIZAÇÃO COM PROFISSIONAIS EM UM HOSPITAL PÚBLICO: O ATENDIMENTO INTEGRAL DA MULHER VÍTIMA VIOLÊNCIA SEXUAL
De acordo com a versão preliminar do estudo 'Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde', divulgada em 2014, estima-se que a cada ano no Brasil 0,26% da população sofre violência sexual, isso corresponde a uma média de 527 mil tentativas ou casos de estupros consumados no país, dos quais 10% são reportados à polícia. Entende-se que a violência tem muitas dimensões e engendra diversos sentidos que se associam à rede de interlocução no cotidiano, dentre eles o das instituições de saúde e dos profissionais. Mesmo que o profissional construa uma definição científica sobre um determinado, ele é influenciado por suas vivências diárias, crenças e valores, sendo que sua concepção sobre esse fenômeno influencia no modo de cuidado e tratamento que ele dispõe. Desse modo, o profissional de saúde participa de um contexto de práticas culturais que sustentam percepções distorcidas e “justificam” a violência sexual, como é o caso dos julgamentos direcionados ao comportamento ou adereços utilizados pela vítima. Este trabalho teve como objetivo descrever um processo de sensibilização realizado com profissionais de um hospital regional sobre atendimento humanizado à paciente vítima de violência sexual. A sensibilização fora realizada com profissionais da equipe multiprofissional que compõe o serviço de assistência ginecológica/obstétrica de um hospital público do município de Sobral – Ceará. O referido serviço recebe mulheres da cidade de Sobral e região norte do Ceará. Foram realizadas sessões grupais, no período de janeiro e fevereiro de 2017. O referencial utilizado na estruturação das sessões foram as normas técnicas do Ministério da saúde e pesquisas sobre as práticas culturais que sustentam a violência sexual contra a mulher. Através de estratégia participativa e recursos audio-visuais, foram trabalhados as definições de estupro de acordo com a legislação, epidemiologia, práticas culturais e reações sociais relacionadas ao evento (julgamentos, descrédito à violência, enfoque no comportamento da vítima), aspectos psicológicos comuns à paciente violentada, ética e sigilo profissionais e o papel do profissional de saúde na reestruturação da mesma. Ao final, os participantes expuseram sugestões de melhorias para o serviço, elaborou-se um relatório, descrevendo as atividades realizadas e as sugestões apontadas pelos grupos. Desse modo, a metodologia permitiu uma discussão sobre possibilidades de melhorias do acolhimento que as pacientes recebem. A partir disso, foi possível sensibilizar parte da equipe para o impacto da relação do profissional com a vítima nos primeiros atendimentos e a relação que esta venha a estabelecer com os serviços de saúde e seu tratamento. Outro destaque foi o espaço de escuta e exposição das dificuldades sentidas pelos profissionais, no que diz respeito ao manejo de situações específicas, dentre elas, como abordar a paciente e família, além de outras situações que evidenciaram a necessidade de se planejar mais oportunidades de orientações e treinamentos. As principais dificuldades na prática dessa ação estão relacionadas à adesão dos profissionais e a troca de experiências. Nesse sentido, faz-se necessário criar oportunidades de discussão das práticas cotidianas dos serviços de saúde, no intuito de viabilizar uma assistência humanizada.
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