Vamos sair da UTI? Criação da “Visita Humanizada” nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) Adulto do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) – Brasília/DF
Com o avanço da medicina intensiva, surgiu uma nova população de sobreviventes das doenças agudas, mas que necessitam de algum tipo de suporte, sobretudo da Ventilação Mecânica (VM) e da traqueostomia por VM levando, portanto, a internação prolongada, atrofia muscular, desnutrição, alterações no padrão de sono e depressão. Tais pacientes são denominados Doente Crítico Crônico (DCC) e a condição clínica é a Doença Crítica Crônica (DCCa). A DCCa é devastadora para pacientes, familiares e todo o sistema de saúde. Longos períodos de hospitalização na UTI gera no paciente sentimentos de desesperança, desgaste físico e emocional, tristeza, medo real da morte e principalmente ansiedade e depressão. Atrelado a isso temos os familiares que trazem suas angústias oriundas da ruptura da dinâmica familiar, o estresse, as incertezas de um prognóstico sombrio e duvidoso e a vivência do luto antecipatório. Com o objetivo de minimizar a ansiedade, depressão e o desgaste emocional tanto do paciente com DCCa quanto do seu familiar, fez-se necessário a criação da “Visita Humanizada”. Trata-se de um estudo retrospectivo descritivo quantitativo, no período de janeiro de 2015 a janeiro de 2016, com 32 pacientes internados nas UTIs de um Hospital Público do Distrito Federal. A Visita Humanizada consiste em levar o paciente para fora da unidade (sala de espera), permanecendo com 10 familiares durante uma hora. Foram estipulados 4 critérios para inclusão na visita humanizada, avaliados pela psicóloga, são eles: humor deprimido ou depressão, ansiedade, longa permanência na UTI (DCCa) e solicitação da família. Cabe a psicóloga avaliar paciente e família e prepará-los para a visita, assim como verificar junto a equipe multiprofissional a viabilidade do paciente sair da unidade. O médico avalia as condições clínicas; a enfermagem organiza o paciente no leito e suas medicações, cuida dos dispositivos durante o transporte e monitoriza sinais vitais durante a realização da visita humanizada; e a fisioterapia se responsabiliza pela utilização da bala de oxigênio ou transporte do ventilador mecânico. Das 56 visitas humanizadas, 87,5% dos pacientes estavam em ventilação mecânica; 67% eram do sexo masculino com idade média de 55 anos e do sexo feminino, 33% e 42 anos. 34% dos pacientes que manifestavam depressão/humor deprimido, obtiveram 16 visitas humanizadas, 33% dos pacientes com DCCa obtiveram 19 visitas, 13% foi por solicitação da família e obtiveram 8 visitas e 20% dos pacientes manifestavam ansiedade reativa e obtiveram 13 vistas. Observamos que os grupos de pacientes que obtiveram maior número de visitas humanizadas vão de encontro com os dados da literatura que demonstram a prevalência de depressão e ansiedade em pacientes internados na UTI geral, sobretudo nos pacientes críticos crônicos que são dependentes de VM e, portanto, com longos períodos de hospitalização e maior morbidade e mortalidade. Podemos concluir que as visitas humanizadas possibilitam principalmente ao paciente com DCCa, sair da unidade, ter contato com um número maior de familiares e restaurar seu equilíbrio emocional.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.5 Doença Crônica e Dor ao longo do Ciclo da Vida
Hospital Regional de Santa Maria - HRSM - Distrito Federal - Brasil
Marcelle Passarinho Maia, Ana Carolina Andrade