REDE DE APOIO A PESSOAS EM PROCESSO DE LUTO
Introdução:Em nossa sociedade é incomum encontrar espaço para acolher e amparar pessoas enlutadas, oferecendo, nas comunidades, um ambiente propício para que as pessoas partilhem e elaborarem seus lutos, de uma forma horizontal e circular. Objetivo: Relatar a experiência de dezoito anos da Rede API (Apoio a Perdas Irreparáveis), grupo de reflexão e compartilhamento comunitário, que acolhe e apoia pessoas enlutadas. Metodologia: A rede proporciona reuniões mensais, onde participantes, sob coordenação de profissional habilitado, incentiva a escuta e o amparo, relatam suas experiências de perdas por morte de entes queridos. É um espaço-tempo de partilha de vivências da dor da ausência e busca de meios para reparação dessa contingência. O grupo é aberto, a participação voluntária, não sendo obrigatória presença em todas as reuniões. Não há restrição quanto à posição filosófica, política, social ou religiosa, nem quanto ao tipo de perda ou faixa etária, basta o interesse em participar. O essencial é a disponibilidade para se abrir diante de vivências comuns, nunca iguais, respeitando o direito de todos os presentes de também se manifestarem. A troca de experiências do cotidiano dessas pessoas, o expressar livremente seus sofrimentos e dores e, principalmente, o escutar esses depoimentos, traçam a linha mestra na busca de conforto, orientação e ajuda de uns aos outros.Resultados: Essa reflexão introduz a arte de acender a esperança e nutrir a fé em nossa capacidade de ir além das adversidades da vida. Há o favorecimento para a elaboração do kaos como matéria prima de criação, crescimento e desenvolvimento humano e social, desdobrando-se no luto como kairós, um espaço-tempo sagrado de reorganização e ressignificação das perdas e dos lutos. Os participantes relatam bem estar a cada participação nas reuniões, sentindo melhor os vínculos interpessoais e sociais diante de sua dor, sendo escutados e compreendidos por quem também vivencia desafios semelhantes. A rede de apoio proporciona ajuda por meio de contatos telefônicos, confraternizações em datas especiais e outras atividades comunitárias, além das reuniões mensais. Com essa prática nota-se redução significativa dos efeitos negativos da perda física, emocional, profissional, social e espiritual, tendo sido observados muitos processos de evolução. Discussão: Esse trabalho começou em Belo Horizonte (MG), em 1998, com os encontros promovidos por Gláucia e Eduardo Tavares e doze casais que perderam filhos, cresceu e se expandiu fundando unidades afiliadas em outras cidades do Brasil e em Nova York, contabilizando aproximadamente sete mil participantes enlutados. Nessas reuniões a troca de experiências facilita o processo de aceitação da morte e das perdas, não como punição, ou sofrimento desmedido, mas como um fenômeno de referência real. Aceitar essa referência é se dispor a prosseguir, transformando a dor da saudade e da ausência física em memória e gratidão. Considerações finais: Essa metodologia tem se mostrado de grande abrangência e de suma relevância, para facilitar o processo de luto por meio da comunhão entre semelhantes e do apoio mútuo. Abrem-se possibilidades para sair do sofrimento desmedido, favorecendo a elaboração de um novo sentido para o viver.
CASELLATO, G. (org) O Resgate da Empatia. São Paulo: Summus, 2015.
TAVARES, E.C.; TAVARES, G.R. (orgs). E a vida continua. Belo Horizonte: Edição do autor, 2016.
TAVARES, G. R. Reflexões sobre nossa finitude: agrupar pessoas pode gerar mudanças de atitude. In: FUKUMITSU, K.; ODDONE, H. Morte, Suicídio e Luto: Estudos Gestálticos. Campinas: Livro Pleno, 2008, p. 61 -75.
TAVARES, G. R. (org) Do Luto à Luta. Belo Horizonte: Folium, 2014.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Glaucia Rezende Tavares, Marilia Avila Freitas Aguiar