O que o Pronto Socorro demanda da Psicologia? Um panorama a partir das solicitações da equipe multiprofissional de um Pronto Socorro de um Hospital Geral Universitário.
INTRODUÇÃO: Para Coope e Miranda (2002) o Pronto Socorro é a porta de entrada no hospital geral, onde o paciente pode chegar com risco iminente de vida. Percebe-se que após o atendimento emergencial, o indivíduo é levado a reorganizar-se diante da nova realidade que se apresenta. O Pronto Socorro, tanto para o paciente quanto para os profissionais que nele trabalham, é lugar de imprevisibilidades, urgências, perdas, entre outras situações intensas. Faz-se necessário uma equipe multiprofissional capacitada para trabalhar em grupo e lidar com vivências emocionais extremas. O psicólogo se insere nesse grupo ofertando suporte a equipe e pacientes, através de avaliações, diagnósticos diferenciais, manejo de situações difíceis, auxílio à comunicação de más notícias, escuta e intervenções terapêuticas, estimulando recursos de enfrentamento na situação de adoecimento. O Pronto Socorro do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia é aberto 24 horas, via regulação pactuada com o município e conta com 94 leitos, das seguintes especialidades médicas: clínica médica, cirúrgica, ginecologia e obstetrícia, pediatria, cardiologia, traumatologia e ortopedia. OBJETIVOS: Avaliar o perfil das solicitações do Pronto Socorro e locais de maior vulnerabilidade. METODOLOGIA: Análise e descrição dos pedidos de pareceres clínicos e solicitações telefônicas, arquivados na Gerência de Psicologia no período de 18/01/2016 a 18/01/2017. RESULTADOS: Foram atendidas 242 solicitações (em média 20 solicitações/mensais) na rotina do serviço; excluindo-se plantões noturnos, feriados e finais de semana. Deste total, 155 mulheres (64,04%) e 84 homens (34,7%). 3 registros incompletos (1,23%). Os setores que mais solicitaram foram: Ginecologia, com 58 pedidos (23,9%), Pediatria: 55 (22,7%); Clínica Médica: 34 (14,04%); Cardiologia: 18 (7,43%); Psiquiatria: 13 (5,37%); Sala de emergência: 11 (4,54%); Anexo (neuro, ortopedia e traumatologia): 10 (4,13%); Traumatologia: 7 (2,89%); Cirurgia: 5 (2,06%); PAM (observação): 3 (1,23%) e por fim, solicitações incompletas: 28 (11,57%). Humor deprimido foi o sintoma que promoveu maior solicitação da equipe (15% do total das solicitações), seguido por abuso/negligência (11,57% do total geral, mas representando 50,9% do total da pediatria) e violência sexual/física (6,6% do total e 27,58% da ginecologia). As demais se referem a óbitos (incluiu-se óbitos fetais, 9,5%), ansiedade (6,19%), visita infantil (6,19%), cuidados paliativos (4,13%), entre outros. DISCUSSÃO: Compreende-se que os atendimentos psicológicos mais frequentes no HCU-UFU foram relacionados a sujeitos que vivenciaram situação de violência. Justifica-se devido ao hospital ser referência para atendimento local e regional de violências. Ressalta-se que as mudanças do fluxo de atendimento à saúde mental, neste hospital, interferiram nos dados coletados. Além de que tais dados referem-se às solicitações da equipe, o que pode não coincidir com as demandas do paciente, quando avaliado pelas psicólogas. CONCLUSÃO: Observa-se que há demandas especificas em cada enfermaria e algumas exigem mais a presença do psicólogo, tal como nas situações de violência, o que exige planejar ações diferenciadas para esta população, bem como manter-se em contato com a rede de saúde para assegurar a continuidade desse acompanhamento psicológico. Faz-se muito importante continuarmos pensando sobre a prática do psicólogo hospitalar, e por isso, aprimorar o registro de dados estatísticos para que possam gerar outras pesquisas adiante.
Coppe, A. A. F., & Miranda, E. M. F. (2002). O psicólogo diante da urgência no Pronto Socorro. In V. A. Angerami-Camom (Org.), Urgências psicológicas no hospital (pp. 61-80). São Paulo: Pioneira.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.2 Saúde Mental do Paciente, Família e Equipe
Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia - Minas Gerais - Brasil
Ivonete Aparecida Pereira, Gabriela Teixeira de Rezende