Título

Indicadores cognitivos e de captação da realidade em crianças e adolescentes com câncer pelo Método de Rorschach

Resumo

Ao receber o diagnóstico oncológico e vivenciar o processo de cuidado hospitalar, crianças e adolescentes são expostos a fatores de risco ao desenvolvimento, envolvendo variáveis de natureza biológica, psíquica e social. Diante dos desafios vivenciados no contexto de assistência em saúde, o paciente oncológico pediátrico pode se beneficiar de intervenções psicológicas para fortalecer recursos psíquicos e facilitar desfecho positivo em seu desenvolvimento. Para elaborar sua intervenção, o psicólogo pode recorrer a variados instrumentos e técnicas, incluindo métodos projetivos de avaliação psicológica, possibilitando identificar características e potenciais internos, os quais poderão, então, ser cuidados terapeuticamente no contexto da Oncologia Pediátrica, a partir de sua acurada identificação. Nesse contexto, este estudo objetivou identificar recursos cognitivos e de captação da realidade em pacientes oncológicos pediátricos ao longo de seu tratamento em um hospital-escola, referência na área. Aderiram ao estudo 30 pacientes de sete a 17 anos de idade, com idade média de 12,1 anos (±3,1), de ambos os sexos, com diagnóstico oncológico há pelo menos um mês e que não se encontravam em cuidado paliativo ou procedimentos de transplante, todos devidamente autorizados para a pesquisa, compondo amostra de conveniência. O estudo incluiu avaliação da criança/adolescente e de seus responsáveis, por meio de instrumentos específicos de avaliação psicológica. Neste trabalho o enfoque se voltou aos indicadores de potencial produtivo e de captação da realidade dos pacientes obtidos por meio do Método de Rorschach, aplicado individualmente em dois momentos ao longo de seis meses de tratamento oncológico. A aplicação e a avaliação do Rorschach seguiram as diretrizes padronizadas da Escola Francesa deste método projetivo, realizando-se análise da precisão das codificações entre avaliadores independentes, que mostrou bons indicadores. Os dados foram sistematizados em planilhas computacionais de modo a permitir análises estatísticas descritivas (medidas de tendência central e variabilidade) e comparativas entre os dois momentos avaliativos (teste de Wilcoxon para amostras pareadas, utilizando-se nível de significância de 5%), focalizando-se aqui os resultados referentes à produtividade (número de respostas, respostas adicionais, recusas e denegações), ao ritmo (tempo de latência e tempo de reação médio) e aos modos de apreensão (respostas globais, grande detalhe, pequeno detalhe, detalhe branco) do Rorschach. Ao estabelecer comparação entre os dois momentos avaliativos, notou-se estabilidade nos indicadores de produtividade e de ritmo diante do Rorschach, com adequado aproveitamento de recursos cognitivos, que se mostraram compatíveis com o esperado para o desenvolvimento. No tocante aos modos de apreensão, considerados indicadores da estruturação do pensamento formal e do funcionamento de defesas psíquicas, não houve diferenças estatisticamente significativas entre os dois momentos avaliativos, apontando que as repercussões provocadas pelo câncer na vida de crianças e adolescentes não pareceram influenciar seus processos de captação e de discriminação dos estímulos da realidade, pelo menos dentro do período examinado e nesse serviço-escola de referência ao tratamento oncológico. Estes achados propiciaram compreensão relativa a esforços adaptativos de crianças e adolescentes que convivem com o tratamento oncológico, apontando a efetividade das estratégias psíquicas adotadas, preservando seus recursos cognitivos e de captação do ambiente, favorecendo o percurso positivo de seu desenvolvimento.