11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

A vivência, da gravidez ao puerpério, de mães de bebês com malformação congênita externa

Resumo

O vínculo mãe/bebê é essencial para o desenvolvimento da criança. Porém o nascimento de um bebê muito diferente daquele idealizado anteriormente pela mãe, pode repercutir na construção desse vínculo. Essa pesquisa teve como objetivo investigar o impacto emocional vivenciado por mães de recém-nascidos com malformação congênita externa, aquela que é visível, segundo a percepção das próprias. A pesquisa foi realizada no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, utilizando como metodologia uma abordagem qualitativa. A coleta de dados, que ocorreu de Junho a Setembro de 2015, foi a partir de entrevistas semi-estruturadas realizadas com cinco gestantes/mães de bebês com malformação congênita externa, em dois momentos. O primeiro foi no pré-natal e o segundo nos primeiros 15 dias após o nascimento do bebê. O tratamento dos dados foi realizado através da técnica de análise de conteúdo. Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do mesmo instituto, sob o número 43915715.0.0000.5269. Após a análise das entrevistas, foram eleitos três eixos temáticos: 1. O diagnóstico da malformação congênita do filho durante a gestação: o conflito entre a realidade invisível da malformação e o desejo da normalidade, onde foi abordado todo o percurso da gestação. Neste, apareceram questões como os sentimentos de desespero, choque, susto presentes ao receber a notícia. Afinal, a expectativa da mãe gira em torno da figura de um recém-nascido saudável e forte. (Silva et al 2013). Também acerca da ambivalência de dar ou não prosseguimento a gravidez, pois como será levar adiante a gestação de um bebê que a feriu narcisicamente e lhe deu um gosto de fracasso (Mathelin 1999)? E sobre as expectativas com relação à visualização do bebê. 2. A visibilidade da malformação congênita: entre a fantasia e o real. Neste foram abordados aspectos referentes à concretização do diagnóstico e como as mães lidam com este real. Abordou também toda a fantasia acerca de como seria o primeiro encontro com o bebê, que segundo Gonçalves et al (2011) é um momento crítico na elaboração do vínculo, afinal uma das maiores preocupações é a curiosidade pela visualização da aparência física exibida pelo bebê. 3. Ambivalência no vínculo: preconceito e desejo de morte. Neste foi discutida a ambivalência no vínculo dessas mães com os seus filhos, como que este fica afetado diante de um bebê que não parece ser seu. A dificuldade de se ver mãe de um bebê que não se parece em nada com ela e nem com o que esperava. A partir dessa pesquisa, ficou evidente o impacto emocional que tem para as mães esse tipo de notícia e vivência, devido a todo o percurso que saiu totalmente diferente do desejado. Além de mostrar também como isso repercute na construção do vínculo mãe/bebê. Torna-se clara a necessidade de que a equipe multidisciplinar que presta assistência às gestantes, puérperas e recém-nascidos com malformações esteja ciente dessas questões que atravessam todo o percurso de gravidez e puerpério, para poder dar o atendimento integral necessário.

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Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.4 Saúde do Homem e da Mulher

Autores

Fabiana Almeida Padua, Maria de Fátima Junqueira Marinho