11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

Adoecimento e vulnerabilidade psicossocial: Possibilidades e desafios de atuação da Psicologia no hospital.

Resumo

O diagnóstico de câncer provoca sofrimentos que ultrapassam os efeitos físicos da doença, gerando grande impacto sobre o bem estar psicológico do paciente.É necessário que, tanto paciente quanto sua família elaborem estratégias de enfrentamento adequadas, visando uma reorganização da dinâmica psicológica e relacional. O psicólogo se insere no hospital com compromisso de facilitar tais processos a partir de uma abordagem sistematizada, focada na crise desencadeada pelo adoecimento. Dentre os desafios encontrados no contexto hospitalar, este trabalho propõe refletir acerca das limitações e possibilidades da intervenção psicológica, frente a pacientes com diagnóstico oncológico, que enfrentam situações de vulnerabilidade psicossocial. Assim, consideramos vulnerabilidade como fenômeno resultante do conjunto de aspectos que geram maior disposição ao adoecimento, bem como diminuição de recursos de enfrentamento e promoção de saúde (Ayres, França Júnior, Calazans & Saletti Filho,2003). A metodologia adotada neste trabalho é exploratório-descritivo, de natureza qualitativa, visto que se pretende abordar a temática a partir de um estudo de caso. A paciente que ilustra este trabalho tem 42 anos, diagnóstico prévio de HIV e diagnóstico atual de Linfoma Não Hodgkin, em acompanhamento pelo Serviço de Hematologia, de um Hospital Escola, do Sul do Brasil. Desde o início da intervenção, perceberam-se diversas vulnerabilidades físicas, psicológicas e sociais, que sugeriam uma complexa configuração: ausência de rede de apoio, de renda e local de moradia; abandono do tratamento do HIV; histórico de dependência química; vínculos afetivos pouco significativos; baixa tolerância a situações de frustração e dor; histórico de tentativa de suicídio e presença de pensamentos de morte, com recursos de enfrentamento pouco funcionais. Neste sentido, ficou evidente a necessidade de intervenção interdisciplinar, com atenção integral às necessidades da paciente. Inicialmente, foram focos de intervenção: acolhimento das angústias inerentes ao diagnóstico; suporte emocional constante; avaliação da situação de risco de suicídio; mapeamento da rede de apoio; retomada de vínculos familiares e reorganização para os cuidados; reflexões sobre padrões comportamentais e fortalecimento de características resilientes. Foi realizada mediação para avaliação psiquiátrica, bem como discussões com profissionais do serviço social, assim como reuniões com a equipe multiprofissional para repasse de instruções e cuidados, além de acionar familiares para orientação. Questões relacionadas ao autocuidado e adesão aos tratamentos se mantém como uma constante durante o seguimento. Apesar da impossibilidade de avaliar isoladamente os resultados das intervenções de cada saber, podemos associar à intervenção psicológica algumas posturas e mudanças, como: melhora da motivação e comprometimento para tratamento e para a vida, reorganização e envolvimento familiar para acolhê-la e empatia da equipe quanto às suas necessidades e características pessoais. Percebe-se que o vínculo de confiança construída com a equipe, foi fundamental para garantir abertura às intervenções promovendo reflexões transformadoras no percurso da paciente. Assim, evidencia-se a impossibilidade de atuação fragmentada e isolada, quando somam-se dificuldades e desafios à situação de adoecimento. A partir da experiência proporcionada por este caso, foi possível identificar que apesar das limitações impostas, é viável formular alternativas para reconfiguração deste complexo quadro, identificando estratégias multiprofissionais, que respeitam os limites da paciente, possibilitando efetivos avanços no tratamento.

Referências Bibliográficas

Ayres, J. R. C. M., França Júnior, I., Calazans, G. J., & Saletti Filho, H. C. (2003). O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências, 3, 117-140.

Área

2. Universalidade, Equidade e Integralidade em Saúde - 2.1 Interfaces da Psicologia da Saúde e Hospitalar com as Políticas Públicas de Saúde, de Assistência Social e de Educação

Autores

Luiza Harger Barbosa, Claudete Marcon, Joselma Tavares Frutuoso, Luisa Susin Dos Santos, Samira Mello