Humanização pela Arte entre indígenas
Introdução: O propósito desta exposição, cujo tema é pouco explorado pela literatura atual, é relatar uma experiência envolvendo psicologia e saúde indígena na Casa de Saúde do Índio (CASAI) de Roraima, que recebe pacientes indígenas e acompanhantes encaminhados pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas Yanomami e Leste de Roraima. Objetivos: Trata-se de um projeto de intervenção, com vistas a elaborar conjuntamente estratégias de inclusão e desenvolver ações de humanização de pacientes e acompanhantes durante o tratamento institucional de indígenas. Metodologia: A partir de uma abordagem interdisciplinar, na perspectiva antropológica e psicanalítica segundo Georges Devereux (1996), realizou-se um programa de atividades manuais e de lazer junto a indígenas dessa instituição, contando com o apoio de estagiários do curso de Psicologia. Resultados: O projeto, que ocorreu semanalmente, durante sete meses, atendeu indígenas de diversas etnias de Roraima. Os participantes eram pacientes em condições estáveis de saúde e acompanhantes, de ambos os sexos, nas diversas faixas etárias, entre lactentes e idosos. Dentre as atividades desenvolvidas na sala de artesanato, destaca-se desde a confecção de utensílios, bijuterias e brinquedos a partir de palha, madeira e miçanga; bordado; crochê; além de brincadeiras com as crianças no pátio; contação de histórias; modelagem; desenho com lápis de cor; pintura; jogos, tais como dominó, tênis de mesa, futebol com crianças; horticultura; preparação de festas para crianças e festa de natal. Essas atividades gradualmente tornaram-se parte da rotina de cuidados de assistência à saúde nessa instituição. Discussão dos Resultados: O projeto de intervenção enfocou tanto a trajetória terapêutica, o processo saúde-doença, como a vinculação ao mundo espiritual, respeitando-se a diversidade cultural dos povos indígenas e suas especificidades étnicas (GIL, 2016). Enfatizou-se a estratégia preventiva, através da articulação entre recursos tecnológicos tradicionais indígenas e materiais do contexto urbano, no intuito de fortalecer a rede de apoio psicológico, valorizar as propostas de atividades segundo a demanda e promover a inclusão do indígena no ambiente institucional, por meio da arte terapêutica, representada pelo artesanato tradicional, com o propósito de canalizar emoções e sentimentos de usuários e acompanhantes, face ao convívio de indígenas oriundos de culturas diferentes em ambiente institucional urbano, regido por normas distintas do contexto comunitário sob a vigilância de pessoas pertencentes à cultura dominante. As atividades manuais e de lazer favoreceram os encontros interculturais, sensibilizando os indígenas para a aceitação das condições de tratamento, marcadas pelo longo período de recuperação e partilha de espaço coletivo. Ressalta-se a socialização de conhecimento ao facilitar o intercâmbio etnocultural de tecnologias no processo de confecção de artesanato. Considerações finais: Ao se buscar estimular o protagonismo indígena devem ser consideradas a dimensão sociocultural e psicológica. Constatam-se mudanças nas estratégias de acolhimento, tendo em vista a Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena, que promove os cuidados diferenciados, entretanto, percebe-se ainda o predomínio do modelo biomédico no atendimento institucional, o que gera desprazer entre pacientes e acompanhantes. Dessa forma, a arte na CASAI surgiu como estratégia de humanização no atendimento à saúde desses indígenas.
Devereux, G. Ethnopsychiatrie des indiens Mohave. Paris: Synthélabo, 1996.
GIL, Pamela Alves. Mulher Indígena: novos enfrentamentos. In CALEGARE, M.G.A;. HIGUCHI, M.I.G. (Org.) Nos interiores da Amazônia: leituras psicossociais. Curitiba-PR: CRV. 2016, p.271-285.
4. Modelos de Prevenção e Promoção da Saúde em Diferentes Contextos - 4.3. Humanização
Pamela Alves Gil