O LUTO DOS PAIS DIANTE DA PERDA DE SEUS FILHOS CRIANÇAS
A morte de uma criança gera diversas incompreensões aos pais, que se deparam com a ausência de explicações, pois a morte abre uma fissura no universo simbólico dos sujeitos. Diante disso, inicia-se o luto, que se trata de uma reação a uma perda e elaboração psíquica desta. Nesse contexto, o presente trabalho objetivou compreender como os pais lidam com a morte de filhos, ainda na infância, em decorrência de alguma doença, sob o entendimento dos pressupostos psicanalíticos. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa, com pais cujos filhos morreram crianças (0 a 12 anos incompletos), e haviam falecido entre 4 meses a 18 meses. Esses pais foram buscados por meio das declarações de óbitos disponíveis no Sistema de Informação de Mortalidade, da cidade de referência dos mesmos. Assim, realizaram-se 11 entrevistas semidirigidas, considerando a saturação dos dados. As entrevistas foram transcritas na íntegra e analisadas por meio da análise de conteúdo, a partir do qual os dados foram organizados em seis categorias. Os resultados apontaram que frente ao adoecimento do filho, emergiram sentimentos de angústia e impotência diante dos procedimentos e a necessidade de articulação dos pais em torno do cuidado físico e emocional dos filhos com vistas à dedicação integral a eles. Por sua vez, observou-se incompreensão da perda, diante da inversão da ordem que se espera da vida, assim como um abalo narcísico, que se refere a uma perda de uma parte de si, bem como de expectativas que se relacionavam ao filho. A busca por um sentido da perda, frequentemente, ancorou-se na religiosidade. Evidenciou-se desconfiança da equipe de saúde, a qual, muitas vezes, foi alvo de suspeitas em relação à causa da morte e críticas sobre o cuidado, assim como a autoculpabilização dos pais, na medida em que se sentiam culpados pela morte dos filhos. Além disso, os movimentos de barramento do sofrimento na contemporaneidade, em que há intolerância à dor e a tristeza, restringiram os espaços que os sujeitos encontraram para compartilhar seu pesar, dificultando, em certo sentido, o processo de elaboração do luto. Destaca-se a importância da rede de apoio, que inclui grupos religiosos, rede social, tais como amigos, vizinhos, e grupos na internet. Entende-se que a importância deste estudo se dá na medida em que oferece subsídios às equipes de saúde para melhor acolher os dilemas da perda de pais frente aos processos de luto, assim como promover uma aproximação ao universo dos mesmos, criando um espaço de escuta e visibilidade do sofrimento dessa experiência.
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1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Cristine Gabrielle da Costa dos Reis, Carmen Leontina Ojeda Ocampo Moré, Alberto Manuel Quintana, Camila Peixoto Farias