A espiritualidade no processo de resiliência em contexto de hospitalização: a experiência de uma mãe em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica
A experiência de acompanhar um familiar em unidade de terapia intensiva tende a ser vista como um momento de crise. O estudo da resiliência no contexto hospitalar visa compreender quais características individuais e ambientais podem ser modificadas ou estimuladas para que os indivíduos apresentem estratégias eficazes de enfrentamento em situações adversas, transformando-se e sendo fortalecido por elas. A espiritualidade como experiência humana que traz sentido e significado para a existência, também tem sido considerada como importante recurso de enfrentamento em contextos adversos, sendo compreendido por alguns autores como decisiva no processo de resiliência. Dessa forma, o presente trabalho busca abordar o processo de resiliência e espiritualidade no contexto hospitalar, relacionando aspectos teóricos com um caso clínico de uma genitora, principal acompanhante do filho, em uma UTI pediátrica de um hospital infantil em Salvador- Bahia. O paciente internou na UTI aos 36 dias de vida, com diagnóstico de atresia duodenal, evoluindo para choque séptico, sendo abordado com a família sobre cuidados paliativos já no quinto dia de internamento, tendo o mesmo ido a óbito no 27º dia de hospitalização. Apesar da situação adversa vivenciada, considerada como de risco ao bem estar da genitora, nos atendimentos realizados à mesma, foi possível observar que possuía aspectos pessoais que auxiliavam a lidar com a gravidade do estado de saúde e tratamento do filho, tais como autocontrole, respeito, autonomia e orientação social positiva. Apesar de ser do interior do Estado da Bahia, possuía rede de apoio efetiva, e boas relações familiares, o que também favorecia enfrentamento. Outro fator fundamental no processo de resiliência da genitora relaciona-se com a fé e religiosidade apresentada pela mesma, especialmente no momento de terminalidade e óbito do paciente. Além destas características, também teve papel importante a boa relação estabelecida entre a genitora e a equipe multidisciplinar, a humanização no atendimento e a comunicação clara e precisa desde o início do internamento. Por fim, o processo de resiliência diz respeito à superação de adversidades, o que não significa a ausência de sofrimento, mas a possibilidade de transformação e fortalecimento. Além disso, esperança e fé são elementos decisivos na construção de condutas resilientes. O presente relato de caso mostra que, apesar das dificuldades vivenciadas, fatores pessoais, familiares, espirituais e do ambiente favoreceram a promoção da resiliência da genitora e processo inicial de elaboração do luto pela perda do filho.
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3. Intervenções Psicológicas na Rede de Atenção à Saúde - 3.2 Espiritualidade na Saúde
Hospital Martagão Gesteira - Bahia - Brasil
Daniele Silveira Carvalho