MEDO DE QUEDAS E ATIVIDADES AVANÇADAS DE VIDA DIÁRIA EM IDOSOS
Considerando que o medo de quedas é vivenciado inclusive por idosos que nunca caíram, podendo levar a limitações nas atividades de vida diária, o presente estudo objetivou investigar a associação entre o medo de quedas e a funcionalidade para Atividades Avançadas de Vida Diária (AAVD) em idosos comunitários, segundo características sociodemográficas e clínicas. As análises incluíram 645 clientes de uma operadora de saúde, com 65 anos ou mais, de ambos os sexos, entrevistados pelo Estudo FIBRA-RJ. Para avaliar o medo de cair foi aplicada a Falls Efficacy Scale – International (FES-I), versão FES-I-Brasil. As AAVD foram avaliadas com inventário construído com base na literatura, sendo considerada como melhor funcionalidade a realização de 7 ou mais atividades, em um total de 12. Foi conduzida regressão de Poisson para estimar as razões de prevalência do medo de queda (e seus respectivos intervalos de 95% de confiança) ajustadas pelas condições sociodemográficas, clínicas e as AAVD. A prevalência do medo de quedas foi 5% menor para indivíduos com pior funcionalidade para AAVD, em comparação com grupo de melhor funcionalidade. A associação significativa obtida entre o medo de cair e AAVD foi independente do nível de fragilidade, idade, sexo, história de quedas, autopercepção de saúde, depressão, medicação e comorbidades. Os resultados indicam que indivíduos com pior funcionalidade para AAVD sentiram menos medo de cair que aqueles com melhor funcionalidade para AAVD. Pode-se pensar que isso se deva à menor exposição ao perigo de sair de casa, tornando-se um mecanismo adaptativo, isto é, indivíduos mais velhos podem selecionar as AAVD para as quais são mais competentes e que exigem menos de seus recursos(Baltes & Baltes, 1990). A diminuição no nível de atividades pode significar um processo seletivo benéfico no sentido de que os recursos disponíveis no idoso podem ser reservados para as funções que trazem maior bem-estar; promovendo minimização de perdas e a maximização dos ganhos. Segundo a teoria da seletividade sócio-emocional, os idosos, em função da mudança na sua perspectiva de tempo futuro, redistribuem ativamente os próprios recursos sócio-emocionais, reduzindo a amplitude das redes sociais e mantendo o envolvimento social com aqueles que oferecem significativas experiências emocionais positivas, o que leva à otimização do bem-estar psicológico na velhice(English & Carstensen, 2014). Assim, a diminuição do nível de AAVD, privilegiando atividades próximas ou no próprio domicílio, pode estar associada à regulação emocional de idosos. É sabido que não só o estado físico e as habilidades atuam na autoeficácia, como também a influência social, as experiências prévias e a observação da experiência de terceiros(Bandura, 1977). Sendo assim, é possível supor que os idosos com pior funcionalidade para as AAVD estão sendo privados de experiências que aumentam as chances do medo quedas. A partir deste estudo, sugere-se que AAVD comecem a ser incorporadas aos protocolos de avaliação clínica de idosos e que os mecanismo adaptativos de seleção e otimização de recursos na velhice sejam considerados para as recomendações de participação em AAVD de forma a se evitar os equívocos das indicações homogeneizantes de manutenção de atividades na velhice.
Baltes, P. B., & Baltes, M. M. (1990). Psychological perspectives on successful aging: The model of selective optimization with compensation. In: P. B. Baltes, & M. M. Baltes (Orgs.) Successful aging. Perspectives from behavioral sciences (pp. 1-34). Cambridge: Cambridge University Press.
Bandura, A., Adams, N. E., & Beyer J. (1977). Cognitive processes mediating behavioral change. Journal of Personality and Social Psychology, 35(3), 125-39.
English T., & Carstensen, L. L. (2014). Selective narrowing of social networks across adulthood is associated with improved emotional experience in daily life. International Journal of Behavioral Development , 38(2), 195-202.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.6 Processo de Envelhecimento e Saúde
JESSICA FARIA SOUTO, PRICILA CRISTINA CORREA RIBEIRO, ROBERTO ALVES LOURENÇO