11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

11º Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar

ExpoGramado – Centro de Feiras e Eventos - Gramado /RS | 30 de agosto a 02 de setembro de 2017

Dados do Trabalho


Título

Malformação congênita, o bebê como veio ao mundo: repercussões na subjetividade materna.

Resumo

A maternidade sobrecarrega a subjetividade da mulher de indagações e impasses que esbarram na posição enigmática do feminino. Mannoni (1964/1988) aponta que: “qualquer que seja a mãe, o nascimento de uma criança nunca corresponde exatamente ao que ela espera. Depois da provação da gravidez e do parto, deveria vir a compensação que faria dela uma mãe feliz” (p. XVIII). O nascimento não traz a satisfação esperada, pelo contrário, inicia-se o desencadeamento de afetos que parecem não ter fim. Interessa-nos, assim, investigar mais precisamente as repercussões que bebês acometidos por malformação congênita podem ter sobre a subjetividade materna.
Na clínica com bebês acometidos por malformação congênita no Hospital Geral, os diagnósticos mais frequentes são as cardiopatias congênitas e as malformações craniofaciais, algumas associadas a síndromes genéticas. O tratamento cirúrgico, indicado na maioria dos casos, é um procedimento de alta complexidade, realizado em centro cirúrgico, com internações em centro de terapia intensiva e acompanhamento médico – em internação hospitalar por um período e ambulatorial ao longo da vida. Limitações físicas, sequelas neuropsicomotoras graves, transplante cardíaco (ex: cardiopatia congênita complexa), inúmeras intervenções cirúrgicas, sequelas cicatriciais, podem estar associadas à história de vida desses bebês, que, em determinado momento do tratamento, são crianças maiores ou adultos à espera de uma resolução definitiva da medicina para o tratamento da malformação congênita.
A malformação congênita, não é um acontecimento raro, estando entre os problemas médicos de prevenção e cura mais difíceis. Santos e Dias (2005) nos dizem que “qualquer alteração no decorrer do desenvolvimento embrionário pode resultar em anomalias congênitas que podem variar desde pequenas assimetrias até defeitos com maiores comprometimentos estéticos e funcionais” (p. 592-593). Malformações oriundas das mais diversas causas podem afetar o esqueleto, órgãos sensoriais, músculos, circulação, sistemas respiratório e nervoso, metabolismo ou qualquer parte do corpo do recém-nascido.
A maternidade pode anunciar a realização de um desejo expresso, como também denunciar o conflito desse enigmático lugar fundamental na constituição de um outro ser humano. É evidente que nessas circunstancias de malformação do bebê, essa comoção apresenta-se abafada pelo desaparecimento do ideal do filho perfeito, (com saúde) e inauguração de uma fase de angústia frequente diante do real da cena da patologia do filho. Para além do lugar da maternidade, o lugar de mulher. A experiência vivida por mulheres nesse contexto clínico levantou muitas questões sobre a subjetividade presente em cada caso acolhido e tratado pelo analista. Destacamos esse mal-estar materno que um amor incondicional pode representar, seus conflitos e ambivalências, com a certeza de que novas questões surgirão para investigação sempre que sustentarmos o lugar da psicanálise.

Referências Bibliográficas

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Área

1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.2 Saúde Mental do Paciente, Família e Equipe

Instituições

Biocor Instituto - Minas Gerais - Brasil

Autores

Alexandra Oliveira Martins