Quando o amor sobrevive à morte: o processo de luto do cônjuge.
O luto pode ser definido como um conjunto de reações fisiológicas, psicológicas, emocionais, comportamentais e sociais frente a uma perda significativa da qual o sujeito não possui controle. Diante da doença oncológica, sabe-se que os sentimentos gerados pelo adoecimento e ameaça de perda intensificam-se, instaurando o processo de luto antecipatório, que ocorre desde o momento do diagnóstico. Após a perda real, o luto surge enquanto uma reação, acarretando na ausência de motivação pelo mundo. Além da tristeza e das mudanças oriundas, no caso da viúva, existe a especificidade da perda de um companheiro de vida. Ao perceber o luto enquanto uma possibilidade de significar a perda e resgatar o controle sobre sua vida, Worden propõe as tarefas do luto. Este trabalho tem por objetivo compreender o processo de elaboração do luto pela morte do cônjuge por meio das tarefas do luto. Ademais, busca-se explanar como o acompanhamento psicológico auxilia na passagem por esse processo. Optou-se por um método qualitativo de revisão bibliográfica e de discussão de caso clínico, resultando em uma problematização teórico-clínica. O caso apresentado refere-se a um acompanhamento psicológico direcionado ao luto da esposa de um paciente atendido em um Hospital Geral de Porto Alegre, que falecera por uma doença oncológica. Dentre as tarefas do luto, a primeira refere-se à aceitação da realidade da perda. Essa etapa pode iniciar durante o luto antecipatório, assim como no caso, frente à iminência da perda. A segunda tarefa corresponde a entrar em contato e reconhecer a dor diante da perda. Percebeu-se que, no primeiro momento, houve evitação dos sentimentos por parte da viúva. Ressalta-se a importância observada da abertura de espaços para que a troca de sentimentos seja permitida. A terceira tarefa é definida como o ajustamento a um mundo sem a pessoa morta. Após a perda do companheiro, instaura-se a necessidade de se produzir uma nova identidade e de aprender novos papéis. Em relações onde os vínculos são de dependência, como na situação acompanhada, sabe-se que o luto pode significar a perda do próprio self. Sendo assim, é necessário tempo para que a perda do companheiro possa incorporar-se ao novo self. A oferta de um espaço acolhedor e de continência pode auxiliar nesse processo. A última tarefa consiste em encontrar uma conexão duradoura com a pessoa morta em meio ao início de uma nova vida. Ao longo do acompanhamento psicológico, foi possível perceber que a familiar conseguiu encontrar um espaço internalizado para as suas lembranças, permitindo-se seguir em frente. O trabalho psicoterapêutico, nesse contexto, visa auxiliar a viúva a vivenciar as tarefas do luto, adaptando-se à perda, ajustando-se a um mundo frente à ausência e encontrando maneiras de manter o vínculo com o companheiro falecido. Ainda, essa intervenção mostra-se preventiva para o desenvolvimento do luto patológico. No ambiente hospitalar, a psicoterapia, baseada na modalidade breve focal, tem como objetivo a superação de sintomas atuais e emergentes. Frente à singularidade e aos atravessamentos existentes no processo de luto, pensa-se na importância da familiar manter um acompanhamento psicológico.
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Hospital Ernesto Dornelles - Rio Grande do Sul - Brasil
Jade Silveira da Rosa, Tatiana Cristina Galli