Pacientes oncológicos em contato com o morrer: Atuação do psicólogo
A morte e o morrer continuam se revelando ao ser humano como um dos principais eventos causadores de sofrimento e angústia. Aprender a conviver com a consciência da finitude de maneira saudável envolve esforço técnico, científico e emocional, por parte da equipe de saúde, dos pacientes e dos familiares. Uma das atuações do psicólogo no ambiente hospitalar está diretamente associada ao acompanhamento e acolhimento de familiares no momento do recebimento da notícia do óbito de um paciente ou do agravamento da condição de saúde. Cada vez mais este profissional vem trabalhando diretamente com o paciente, acolhendo os sentimentos frente à terminalidade e favorecendo uma possível preparação para a morte. Na área da Oncologia o medo da morte acompanha o paciente desde o momento do diagnóstico, por isso, a atuação da Psicologia deve envolver o significado da morte para cada paciente e a forma como cada um enfrenta este momento. Cabe ao psicólogo auxiliar também a equipe de saúde, oferecendo um suporte para o contato com os pacientes terminais e ainda atentando para a forma como esses profissionais lidam a questão da finitude. O objetivo do presente trabalho é apresentar a experiência de atendimento a pacientes oncológicos em estado avançado da doença, a fim de contribuir para a discussão sobre formas de acolhimento e acompanhamento aos pacientes, familiares e profissionais. Trata-se de um relato de experiência que tomou forma a partir da atuação da primeira autora como psicóloga residente em um hospital universitário com pacientes oncológicos. Algumas pessoas, cientes da gravidade de seu caso, relatam tranquilidade, medo, raiva, aceitação e esperança de continuar vivendo. É possível perceber que o contato com a terminalidade acontece de maneira muito particular, influenciado por diversos elementos que compõem a história de vida de cada paciente. Dentre tais elementos, destacam-se as experiências anteriores de perdas, o significado religioso atribuído à morte e as condições do estado físico de cada paciente. As dores intensas que acompanham o avanço da doença culminam na manifestação verbal do desejo pela morte. Por outro lado, a religiosidade parece auxiliar no enfrentamento da morte com mais naturalidade e tranquilidade. A atuação da Psicologia com esses pacientes envolve desde um acolhimento às demandas emocionais, o estímulo à recordação de vivências significativas durante sua vida, a auto avaliação frente ao adoecimento, a manifestação de desejos e expectativas e o apoio aos familiares após o óbito. Visto a forma particular de cada paciente e familiar de enfrentar o agravamento da doença e proximidade do óbito, conclui-se que a atuação da Psicologia precisa ser compartilhada com toda equipe de saúde a fim de que os significados associados ao momento facilitem o processo de humanização, bem como a comunicação com familiares e pacientes. Considera-se que, quando há um acolhimento do paciente e sua família, a morte consegue ser vista como um processo natural, a limitação do tratamento é encarada de forma realística, com diminuição das respostas de negação. Falando sobre a morte aprende-se a viver de maneira mais plena.
BORGES, Alini Daniéli Viana Sabino et al . Percepção da morte pelo paciente oncológico ao longo do desenvolvimento. Psicol. estud., Maringá , v. 11, n. 2, p. 361-369, Ago. 2006 . Disponível em
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de bases técnicas oncologia. Sistema De Informações Ambulatoriais Do SUS (Sia/Sus) Manual De Bases Técnicas Oncologia. Departamento de atenção especializada. Secretaria de atenção à Saúde- Brasília: Ministério da Saúde, 2007. 79 p.
DOMINGUES, Glaucia Regina et al . A atuação do psicólogo no tratamento de pacientes terminais e seus familiares. Psicol. hosp. (São Paulo), São Paulo , v. 11, n. 1, p. 02-24, jan. 2013 . Disponível em
FERREIRA, Ana Paula de Queiroz; LOPES, Leany Queiroz Ferreira; MELO, Mônica Cristina Batista de. O papel do psicólogo na equipe de cuidados paliativos junto ao paciente com câncer. Rev. SBPH, Rio de Janeiro , v. 14, n. 2, p. 85-98, dez. 2011 . Disponível em
FERREIRA, Vanessa dos Santos; RAMINELLI, Orilete. O olhar do paciente oncologico em relação a sua terminalidade:: ponto de vista psicologico. Rev. SBPH, Rio de Janeiro , v. 15, n. 1, p. 101-113, jun. 2012 . Disponível em
INCA. Incidência de Câncer no Brasil, 2016.
KUBLER- Ross, E. “Sobre a morte e o morrer”: 8ª Ed., Martins Fontes. São
Paulo, 1998.
MEDEIROS, Luciana Antonieta; LUSTOSA, Maria Alice. A difícil tarefa de falar sobre morte no hospital. Rev. SBPH, Rio de Janeiro , v. 14, n. 2, p. 203-227, dez. 2011 . Disponível em
SCHMIDT, Beatriz; GABARRA, Letícia Macedo; GONCALVES, Jadete Rodrigues. Intervenção psicológica em terminalidade e morte: relato de experiência. Paidéia (Ribeirão Preto), Ribeirão Preto , v. 21, n. 50, p. 423-430, Dez. 2011 . Disponível em
SILVA, Bárbara Farias da et al. Atuação do psicólogo hospitalar diante do impacto do diagnóstico de câncer: relato de uma experiência. Sínteses: Revista Eletrônica do SIMTEC, Campinas, SP, n. 5, p. 205-205, maio 2016. ISSN 2525-5398. Disponível em:
VON HOHENDORFF, Jean; MELO, Wilson Vieira de. Compreensão da morte e desenvolvimento Humano: contribuições à Psicologia Hospitalar. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro , v. 9, n. 2, set. 2009 . Disponível em
1. Cuidados em Saúde nos Ciclos da Vida - 1.3 Morte e Processo de Luto
Hospital e Maternidade Celso Pierro- PUC Campinas - São Paulo - Brasil
Luana Maria de Oliveira, Andreia Elisa Garcia de Oliveira, Thais de Lima Bezerra