11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

AREA DE VIDA E OBSERVAÇOES SOBRE USO DE HABITAT DE TRES ESPECIES SIMPATRICAS DE PEQUENOS FELINOS SILVESTRES NO EXTREMO SUL DO BRASIL

Resumo:

Ações de monitoramento de fauna são práticas condicionantes à instalação e operação de empreendimentos de diversas naturezas. Salvo pequenas exceções, os monitoramentos costumam utilizar metodologias tradicionais que visam aferir riqueza ou apenas índices de diversidade local, desperdiçando recursos que poderiam ser direcionados para a busca de novidades significativas em prol da conservação e da ciência. Nesse estudo reportamos dados iniciais de ecologia do movimento obtidos ao longo do monitoramento direcionado aos pequenos felinos silvestres da Usina Termelétrica Pampa Sul (licenciamento ambiental federal, IBAMA-613/614-2015), Candiota, RS. As ações ocorreram entre 2016 e 2019 visando estimar a área de vida (AV– MCP e Kernel95%) e o uso do habitat (dados qualitativos) a partir de telemetria VHF e GPS aplicado a 12 espécimes: seis gatos-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi - GPS), cinco gatos-maracajá (L. wiedii-3 GPS e 2 VHF) e um gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi-GPS). Leopardus geoffroyi foi generalista, utilizando matas, campos e ambientes peridomiciliares (incluindo o entorno da usina) e estradas. A AV média pelo MCP atingiu 10,4 km², sendo 5,72 km² (1,85–11,85) para fêmeas (n=3) e 8,79 km² (7,94–21,08) para machos (n=3). O valor médio obtido pelo Kernel95% atingiu 15,02 km², sendo 9,31 km² (2,90–20,77) para fêmeas e 9,31 km² (12,76–29,12) para machos. Leopardus wiedii apresentou relação restrita com o ambiente florestal ciliar, evitando áreas campestres. A AV média pelo MCP atingiu 6,59 km², sendo 2,27 km² (0,8–3,62) para fêmeas (n=3) e 13,08 km² (9,39–16,76) para machos (n=2). O valor médio obtido pelo Kernel95% atingiu 10,82 km², sendo 5,15 km² (2,36–9,22) para fêmeas e 19,32 km² (12,15–26,48) para machos. Por fim, H. yagouaroundi apresentou grande mobilidade e o uso de ambientes florestais e campestres herbáceos-arbustivos em diferentes estados de conservação. A AV média atingiu 90,76 km² pelo MCP e 201,56 km² pelo Kernel95% para o único macho monitorado. Os resultados encontrados para L. geoffroyi corroboram as citações sobre a plasticidade em relação ao uso de ambientes antropizados. A ausência de pressão agrícola no entorno das benfeitorias humanas e o adensamento de vegetação ao longo das faixas de domínio parecem oferecer corredor dispersivo, local de forrageio e descanso para L. geoffroyi em áreas de marcada instabilidade agropastoril ou industrial. Leopardus wiedii apresentou a menor AV e maior vínculo a florestas ciliares. Os dados refletem a especialização ao uso do ambiente florestal e o excelente potencial bioindicativo frente a impactos derivados da supressão vegetal associada a empreendimentos em fase de licenciamento. Herpailurus yagouaroundi deteve maior AV. A grande capacidade de deslocamento parece favorecer o abrigo em ambientes preservados, mas também o aproveitamento de recursos oriundos de ambientes rurais (uso agropecuário), periurbanos e até mesmo industriais (áreas de mineração e distritos industriais). Este esforço inicial considera o uso de tecnologia GPS aplicada de maneira pioneira às três espécies de felinos citadas. Os próximos passos consideram a adoção de novos estimadores (p. ex. AKDE e BBMM), bem como o incremento de novos indivíduos monitorados e a inclusão de novas localidades de estudo.

Financiamento:

CAPES, CNPQ, ÁREA de VIDA - Consultoria Ambiental, Maurique Consultoria Ambiental

Área

Ecologia

Autores

FELIPE BORTOLOTTO PETERS, Marina Ochoa Favarini, Fábio Dias Mazim, Ugo Araújo Souza, Ana Paula NEUSCHRANK Albano, Suelen Segui, José Bonifácio Soares, Luiz Gustavo Rodrigues Oliveira-Santos, Flávia Pereira Tirelli , Tadeu Gomes Oliveira