11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

INFLUENCIA DE FELINOS DE MEDIO E GRANDE PORTE EM RELAÇAO AOS DE PEQUENO PORTE EM LIMITE AUSTRAL DA MATA ATLANTICA

Resumo:

Predadores de maior massa corporal influenciam na presença de predadores de menor porte principalmente devido a sobreposição espacial (heterogeneidade horizontal e/ou complexidade vertical), temporal (sazonalidade e/ou atividade circadiana) e dieta. Esperamos que os felinos de menor porte sejam influenciados negativamente pelos de maior porte. Esta condição foi avaliada a partir de registros independentes diários obtidos entre os anos 2005 e 2022 através de armadilhas fotográficas instaladas na região austral da Mata Atlântica, no estado de Santa Catarina (esforço amostral = 42327 armadilhas-dia). Foram utilizados como réplicas dados espaço-temporais, representados pelos os registros de presença/ausência em 315 pontos de amostragem nas quatro estações do ano, perfazendo, portanto 1260 réplicas. Utilizamos uma Análise de Equação Estrutural (AEE) para avaliar a relação entre as espécies: Leopardus guttulus (n=194), L. wiedii (n=103), Herpailurus yagouaroundi (n=33), L. pardalis (n=135) e Puma concolor (n=130), tendo o esforço de amostragem como covariável. Verificamos uma relação negativa e significativa entre L. guttulus e as outras espécies de felinos (p<0,001), com exceção do H. yagouaroundi que não teve influência. Os valores de Variância Explicada (VE) das relações foram, L. wiedii (VE=-0,25), L. pardalis (VE=-0,21), P. concolor (VE=-0,23). A presença de L. wiedii não foi influenciada pelas espécies de maior porte. Por outro lado, H. yagouaroundi teve influência positiva com as duas outras espécies de maior porte: L. pardalis (VE=0,15; p=0,003) e P. concolor (VE=0,20; p<0,001). Leopardus pardalis teve relação positiva com P. concolor (VE=0,15; p<0,006). As relações negativas de L. guttulus com as demais espécies corrobora a hipótese de que a espécie de felino de menor porte sofre a influência daquelas de maior porte. Sendo H. yagouaroundi a espécie mais diurna entre os felinos e considerando que L. guttulus evita conflitos utilizando o período noturno na ausência das demais espécies, a coexistência entre L. guttulus e H. yagouaroundi seria esperada pela partilha de recursos temporais. Por outro lado, L. wiedii possivelmente coexiste com as espécies de maior porte devido aos hábitos arborícolas, que permite o acesso a presas distintas, minimiza encontros agonísticos e incrementa o sucesso de fugas. A coexistência de H. yagouaroundi e L. pardalis pode ser explicada pelo hábito circadiano distinto das espécies, diurno para o primeiro e noturno para o segundo e parcialmente em relação a P. concolor que possui hábito arrítmico. A relação espaço-temporal positiva entre L. pardalis e P. concolor pode também estar relacionada parcialmente ao hábito circadiano distinto das espécies, ou mesmo a preferência por trilhas para o primeiro e estradas para o segundo. As interações observadas neste estudo corroboram em parte a hipótese de segregação espaço-temporal, seja em função da heterogeneidade ou sazonalidade, ou em função dos hábitos distintos associados à complexidade (uso do espaço vertical) e atividades circadianas. Contudo, é possível que um artefato de amostragem comum relacionado à instalação de armadilhas fotográficas - evitar a exposição em áreas abertas - possa influenciar os registros, especialmente de H. yagouaroundi, a espécie menos registrada, sendo necessários estudos específicos para avaliar esta condição.

Palavras chave: Armadilhas Fotográficas; Hábitos; Herpailurus; Interações; Leopardus; Puma.

Financiamento:

Houve apoio logístico e de equipamentos de campo por parte do 1) Programa Ecológico de Longa Duração de Santa Catarina/PELD BISC financiado pelo CNPq (Chamada CNPq/Capes/FAPs/BC-Fundo Newton/PELD nº 15/2016, Chamada CNPq/MCTI/CONFAP-FAPS/PELD no 21/2020) e FAPESC (FAPESC 2018TR0928; FAPESC 2021TR386); 2) Reserva São Francisco; 3) Reserva Araponga. Paula Danyelle Ribeiro de Souza é apoiada por uma bolsa de doutorado (n° 88887.519051/2020-00) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Juliano A. Bogoni é apoiado pelas bolsas de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) nº 2018-05970-1 e nº 2019-11901-5.

Área

Ecologia

Autores

Bruna Nunes Krobel, Barbara Lima Silva, Ângela Cardoso, Luana Paula Reis Lucero, Micheli Ribeiro Luiz, Juliano André Bogoni, Maurício Eduardo Graipel, Paula Ribeiro Souza, José Salatiel Rodrigues Pires