11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

FAUNA E FERROVIAS: COMO A PAISAGEM INFLUENCIA NA DINAMICA DA MORTALIDADE POR COLISOES?

Resumo:

A malha ferroviária brasileira atravessa todos os biomas, englobando ambientes urbanos, rurais e naturais. Apesar de sua importância econômica, pode impactar negativamente a fauna silvestre, sendo necessário desenvolver estratégias de mitigação para proteção da biodiversidade nativa. Nesse contexto, o presente estudo objetiva compreender onde estão localizados os hostspots de atropelamentos da mastofauna e como a paisagem do entorno das ferrovias pode influenciar sua dinâmica. Os dados foram coletados em duas ferrovias entre 2013 e 2017, a Malha Ferroviária Norte (MFN; 754 km), no bioma Cerrado, e Malha Ferroviária Paulista (MFP; 1000 km), na Mata Atlântica, área de ecótono com o Cerrado, ambas administradas pela RUMO S.A. Os hotspots foram analisados pelo software KDE+ v2.3. A composição da paisagem do entorno da ferrovia foi analisada utilizando-se um buffer de 10 km, e o entorno das agregações um buffer de cinco km, no ArcGis 10.4 e Fragstats 4.1. Para avaliar a influência da paisagem nos atropelamentos foram gerados modelos lineares generalizados (GLM) no RCore. Na MFN foram registrados 3.827 atropelamentos de animais silvestres, enquanto na MFP foram 725 indivíduos. Apesar da diferença na quantidade de registros, ambas apresentaram um total de espécies similar (25 e 26, respectivamente), com 13 espécies em comum. Na MFN, cinco das espécies mais atropeladas são consideradas ameaçadas de extinção (Tapirus terrestris, Tayassu peccari, Pecari tajacu, Myrmecophaga tridactyla), já na MFP apenas uma dentre as cinco encontra-se ameaçada de extinção (Myrmecophaga tridactyla). É provável que o maior fluxo da operação MFN cause mais atropelamentos . A análise de agregação retornou 142 e 83 hotspots para a MFN e MFP, respectivamente. Estes hotspots foram ranqueados em cinco categorias: muito alto, alto, médio, baixo e muito baixo, sendo que a indicação para estratégias de mitigação são para as agregações muito altas e altas. Em relação à paisagem do entorno das ferrovias, a maior parte das áreas da MFN é caracterizada por agropecuária (70%) e áreas florestais (24%). Já a MFP conta com 61% de áreas agropecuárias, seguida de 14% de Unidades de Conservação de Uso Sustentável, 10% de áreas florestais e 8% de área urbana. Na MFN, três dos 11 modelos foram plausíveis para explicar as agregações de atropelamentos de mamíferos: tamanho do fragmento florestal, percentual de agropecuária + número de fragmentos florestais e percentual de cobertura florestal. Com isso, medidas de mitigação devem ser priorizadas em áreas que sejam próximas de grandes fragmentos florestais e com maior quantidade de cobertura nativa, com menor presença de uso agropecuário. Para MFP foram gerados 19 modelos e apenas o modelo nulo foi selecionado, indicando que a agregação de atropelamentos ocorre ao acaso, e não tem relação com atributos da paisagem analisados. A análise de hotspots em conjunto com a análise de paisagem, pode auxiliar gestores no planejamento das ações mitigatórias e na predição de novas ocorrências, caso a estrutura da paisagem da ferrovia sofra alterações ao longo do tempo. No caso da MFP, é necessário investigar se outros aspectos da paisagem não avaliados nesse estudo podem influenciar no atropelamento de mamíferos.

Financiamento:

Área

Ecologia

Autores

Leticia Prado Munhoes, Beatriz Lopes, Fernanda Delborgo Abra, Tatiane Bressan Moreira, Stefani Gabrieli Age, Paula Ribeiro Prist