11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

REDE DE COLABORAÇAO PARA DIAGNOSTICO RAPIDO DE DOENÇAS EM PRIMATAS CATIVOS

Resumo:

Com a pandemia de COVID-19 ficou mais evidente que surtos de novas doenças têm se tornado comuns, muitas vezes acarretando uma séria ameaça à saúde pública. Quando esses eventos ocorrem em populações não humanas, afetando um número considerável de animais ao mesmo tempo e na mesma região (análoga a uma epidemia em humanos), chamamos de epizootia. Elas podem afetar seriamente a higidez animal, podendo levá-los à morte. Dessa forma, o monitoramento da fauna, seja de vida livre ou cativa, é essencial para conservação e bem-estar dos animais. Porém, muitas vezes o tempo de resposta é um obstáculo para o controle dos surtos. Assim, o estabelecimento de uma rede colaborativa de diagnóstico laboratorial permitiria a obtenção de respostas mais rápidas, sendo de grande valor para toda a comunidade. Desde 2020, o Centro de Primatologia do Estado do Rio de Janeiro (INEA/RJ), o Instituto de Ciência em Biomodelos (Fiocruz/RJ) e o Projeto Bugio do Centro de Pesquisas Biológicas de Indaial (FURB/SC) montaram uma rede de parceria com a UFRJ e a UFRRJ para o monitoramento de primatas com sinais clínicos respiratórios durante a pandemia de COVID-19. Como consequência dessa rede, fomos capazes de caracterizar os agentes causadores de dois surtos, responsáveis pela morte de quinze animais. No primeiro caso, onze primatas cativos do CPRJ apresentaram febre, inapetência, prostração extrema, disfunção pulmonar e dispnéia no final de setembro de 2020 e acabaram evoluindo para óbito aproximadamente três dias após o início dos sinais clínicos. Para identificação do patógeno amostras de sangue, swabs orais e nasais, além de fragmentos de tecidos foram coletadas e enviadas para oito laboratórios, onde foram analisadas simultaneamente para a presença de doze patógenos, dentre eles importantes agentes virais, bacterianos e parasitários. Onze primatas foram submetidos à necropsia, histopatologia e imuno-histoquímica. Todos os onze primatas apresentaram pneumonia, hepatite, linfadenite e imunomarcação de cistos e taquizoítas com uso de um anti-Toxoplasma gondii na imuno-histoquímica. O diagnóstico para toxoplasmose também foi confirmado pela metagenômica da plataforma MinION Oxford Nanopore Technologies. Assim, em virtude dessa ação coletiva, juntamente com as ações de biossegurança adotadas, o resultado do diagnóstico foi obtido em apenas 15 dias desde a notificação dos primeiros sinais clínicos. No segundo caso, a resposta foi obtida de forma ainda mais rápida, com a identificação do agente em apenas cinco dias. Assim, em abril de 2022, após o relato de quatro óbitos de animais oriundos do Projeto Bugio (FURB/SC) apresentando sinais clínicos graves, como inapetência, prostração extrema e hepatite aguda, amostras de sangue e tecidos foram coletadas e enviadas à UFRJ, onde foram submetidas à técnica de sequenciamento massivo através da plataforma Illumina, que identificou a presença de Klebsiella pneumoniae no fígado. Portanto, diante do exposto, a montagem de uma rede de vigilância facilitou a identificação e o monitoramento de doenças e, consequentemente, permitiu a tomada de decisões de forma rápida, assegurando o melhor tratamento para os animais acometidos e evitando a disseminação da doença.

Financiamento:

FAPERJ, CNPq, CAPES

Área

Parasitologia/Epidemiologia

Autores

Francine Bittencourt Schiffler, Filipe Romero Rebello Moreira, Asheley Henrique Barbosa Pereira, Amanda Lucas Coimbra, Sílvia Bahadian Moreira, Ingra Morales Claro, Ester Cerdeira Sabino, Zelinda Maria Braga Hirano, Alessandra Beirith, Juliana Silveira e Silva, Aline Naissa Dada, Nathana M Diska, Sheila R S Francisco, Alcides Pissinatti, Daniel Guimarães Ubiali, Mirela D'arc, André Felipe Andrade Santos