11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

TATUS COMO ANFITRIOES: INFLUENCIA DE ESTRUTURADORES FLORESTAIS NA PRESENÇA DE MAMIFEROS QUE UTILIZAM TOCAS COMO ABRIGO

Resumo:

As tocas escavadas pelos tatus podem ser usadas como refúgio para dezenas de espécies de animais e é resultado de hábitos intrínsecos dessas espécies, sendo responsáveis por modificar características físico-químicas do ambiente, misturando os nutrientes inorgânicos, aumentando a aeração e a entrada de água no solo, servindo assim como estruturadores florestais. Eles contribuem para a heterogeneidade do ecossistema, influenciam a distribuição e abundância de outros organismos, bem como possuem efeito direto na estruturação e manutenção das comunidades. As tocas podem servir de abrigo para algumas espécies, mas, por outro lado, podem ser consideradas armadilhas para outras, pois servem como facilitador de encontro entre presas e predadores, por se tornar lugares ideais para encontrar alimentos como tem sido verificado para felinos. No presente estudo, verificamos como a presença de tatus (proxy para toca) influência na presença de outros mamíferos que podem utilizar suas tocas de abrigo. Com o intuito de identificar a possível relação entre presença de Dasypus novemcinctus e Cabassous tatouay com espécies de mamíferos que podem utilizar tocas de abrigo, como Didelphis spp., Dasyprocta azarae e Cuniculus paca, foram instaladas armadilhas-fotográficas em 349 pontos distribuídos em 42 áreas no Estado de Santa Catarina entre os anos de 2005 e 2022. Foram obtidos registros de presença de tatus (n=195), Didelphis spp. (n=72), D. azarae (n=72) e C. paca (n=32) em pontos de amostragem distintos. A fim de verificar a existência de relação significativa (p < 0,05) entre as espécies de tatu e espécies que utilizam suas tocas, realizamos uma Análise de Equação Estrutural (AEE), considerando o esforço de amostragem como uma covariável, devido à influência desta nos registros. Apenas Didelphis spp. apresentou relação significativa com os tatus (VE = -0,28; p < 0,001). Sugerimos que a relação negativa entre tatus e Didelphis spp. pode estar associada ao uso diferencial de habitat, onde os primeiros utilizam ambientes mais preservados e os segundo ambientes mais alterados, ou ainda à predação de gambás por felinos de menor porte, como Leopardus guttulus, que conseguissem adentrar em tocas de tatus utilizadas por gambás. Uma associação positiva foi verificada entre tatus e este felino em outro estudo em andamento. A relação positiva observada entre D. azarae e C. paca (VE = 0,14; p < 0,039) também pode estar relacionada ao uso de tocas escavadas por estas espécies, contudo não foi possível verificarmos como se dá a interação em relação ao uso deste recurso, sendo necessário estudos para este fim, com instalação de AFs direcionadas para as tocas. Este estudo evidencia a importância de avaliações de interações entre espécies, especialmente no que se refere ao hábito e uso de habitats, sugerindo que tatus de pequeno porte não são os melhores anfitriões para as espécies avaliadas, apesar de serem chamados de engenheiros de ecossistema e responsáveis por criar novos habitats, demonstrando a importância de novas pesquisas nessa área.

Palavras-chave: Cabassous tatouay; Dasypus novemcintus; Engenheiro ecossistêmico; Interações; Uso de habitat

Financiamento:

Esse trabalho foi executado através do Projeto Fauna Floripa, parceria entre a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM), o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA-SC) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Programa Ecológico de Longa Duração de Santa Catarina/PELD BISC financiado pelo CNPq (Chamada CNPq/Capes/FAPs/BC-Fundo Newton/PELD nº 15/2016, Chamada CNPq/MCTI/CONFAP-FAPS/PELD no 21/2020) e FAPESC (FAPESC 2018TR0928; FAPESC 2021TR386); Reserva Araponga; Paula D. Ribeiro Souza apoiada pela bolsa de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), n° 88887.519051/2020-00; JAB é apoiado pelas bolsas de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) nº 2018-05970-1 e nº 2019-11901-5

Área

Ecologia

Autores

Guilherme Christakis Rodrigues, Barbara Lima Silva, Paula Ribeiro Souza, Bruna Nunes Krobel, Camila Rezende Ayroza, Luana Paula Reis Lucero, Juliano A. Bogoni, José Salatiel Rodrigues Pires, Maurício Eduardo Graipel