11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

INFLUENCIA DA PAISAGEM E DA SAZONALIDADE NO ATROPELAMENTO DE MAMIFEROS SILVESTRES NO ENTORNO DE UMA AREA PROTEGIDA NO SUDESTE DO BRASIL

Resumo:

A presença de rodovias margeando ou adentrando áreas protegidas é um fator agravante dos impactos negativos das estradas sobre a fauna silvestre. Este estudo objetivou avaliar a taxa de atropelamento de mamíferos silvestres no trecho de duas rodovias associadas ao Parque Estadual da Pedra Azul (PEPAZ; Domingos Martins/Espírito Santo) e estabelecer o efeito da sazonalidade e variáveis climáticas sobre os registros obtidos. A coleta de dados foi realizada mensalmente no período de janeiro a dezembro/2015, em trecho de 20 km na BR-262 e em trecho de igual extensão na ES-164. Foram obtidos 149 registros de atropelamento de mamíferos silvestres, totalizando 20 táxons, sendo dois classificados como ameaçados de extinção (Callithrix flaviceps e Chaetomys subspinosus). A taxa de atropelamento foi maior na BR-262, com 113 registros (75,8%), tendo sido registrados apenas 36 atropelamentos na ES-164. A Ordem Didelmorphia foi a mais afetada (n=72 registros; 48,3%), seguida por Rodentia (n=36 registros; 24,2%), nas duas rodovias amostradas. Foi obtido maior número de registros na estação chuvosa (n=105; 70,5%), em comparação com a estação seca (n=44; 29,5%), havendo correlação positiva entre os registros mensais com temperatura média (rs=0,747; p=0,005; 12 pares), temperatura máxima (rs=0,786; p=0,002; 12 pares) e temperatura mínima (rs=0,666; p=0,017; 12 pares). Não houve correlação entre número de atropelamentos e precipitação mensal (rs=0,281; p=0,377; 12 pares). O aumento dos atropelamentos na estação chuvosa pode estar relacionado à maior produtividade primária, interferindo na intensidade de deslocamento para forrageamento, além de corresponder ao período reprodutivo de muitas espécies, resultando em maior atividade para acasalamento. Foram detectados pontos com concentração de registros de atropelamento de mamíferos ao longo de toda BR-262, havendo apenas um ponto de concentração representativo na ES-164, estando os registros associados especialmente a áreas de macega (espécies generalistas) e mata nativa (espécies escansoriais/arborícolas). A alta taxa de atropelamento da Família Didelphidae, especialmente representada por Didelphis aurita (n=67 registros), pode ser explicada por sua ampla distribuição na paisagem e uso de diferentes tipos de ambientes, o que a torna mais suscetível aos atropelamentos. As outras espécies de mamíferos, exceto Coendou spinosus (n=27 registros; 18,1%), apresentaram número reduzido de registros (1 a 5 eventos), mas isso não anula o risco potencial representado pelas rodovias. Estação do ano e temperatura influenciaram os atropelamentos de mamíferos em geral e as peculiaridades no tipo de uso e ocupação do solo no entorno das rodovias também parece influenciar a ocorrência dos eventos e as espécies afetadas. As duas rodovias afetaram negativamente a mastofauna no entorno do PEPAZ, sendo seu efeito agravado por atuarem em sinergia, podendo acarretar impactos sobre a biodiversidade local e regional, uma vez que essa área protegida integra um importante corredor ecológico da Mata Atlântica do Espírito Santo (Pedra Azul–Forno Grande). É recomendado o estabelecimento de medidas para redução da velocidade dos veículos e a instalação de mecanismos de transposição para a fauna para que o impacto dos atropelamentos na região do PEPAZ possa ser minimizado, ressaltando a perda de indivíduos de espécies ameaçadas e a existência de táxons afetados em maior proporção.

Financiamento:

CAPES e UVV

Área

Conservação

Autores

Aline de Castro Alvarenga, Gustavo da Costa Peterle, Silvia Gabriela do Nascimento Agostinho, Ana Carolina Srbek-Araujo