Dados do Trabalho

Título:

ANATOMIA DE FEIXES DE FIBRAS DE ELASTINA E MUSCULOS INTRAMEMBRANOSOS NO UROPATAGIO DE MORCEGOS-PESCADORES (CHIROPTERA: NOCTILIONIDAE)

Resumo:

Os quirópteros apresentam patágio, membrana que se estende entre seus dígitos, tronco e membros posteriores, com feixes intramembranosos de músculos e fibras de elastina que lhe conferem elasticidade e controle da aerodinâmica. Estes feixes são pouco estudados no uropatágio, membrana que se estende entre os membros posteriores. A família Noctilionidae compreende duas espécies de morcegos-pescadores neotropicais, Noctilio leporinus (~ 65g) e Noctilio albiventris (~ 45g), que possuem adaptações em seus membros posteriores permitindo-lhes se alimentarem de peixes e crustáceos. Comparadas com outras espécies com massa corporal similar, estes animais possuem pés e garras consideravelmente maiores, usados para captura do alimento por arrasto, e uropatágio bem desenvolvido, usado no manuseio do alimento. Hipotetizamos que os feixes de fibras de elastina e músculos intramembranosos do uropatágio de noctilionídeos apresentam adaptações para a captura de alimento, sendo mais extensos e robustos que em espécies de morcegos que não utilizam o uropatágio com a mesma finalidade. Para testar tal hipótese estão sendo examinados espécimes depositados na coleção de mamíferos do Museu Nacional, tendo como objetivo caracterizar anatomicamente a disposição e estrutura de feixes de elastina e músculos intramembranosos do uropatágio dos noctilionídeos e compará-la com espécies de outras famílias de morcegos neotropicais. A descrição dos feixes tem ocorrido inicialmente a partir da fotografia de espécimes em mesa iluminadora. Além disso, foram mensurados 8 caracteres morfométricos de 5 espécimes de N. leporinus e N. albiventris: comprimentos da cabeça-corpo, do antebraço, da cauda, do pé, da garra do dígito III, do calcar, da tíbia, e do “músculo uropatagialis”. A covariação entre estes caracteres foi investigada por uma Análise de Componentes Principais (ACP). Até o presente foram examinados espécimes de Vespertilionidae (2 spp.), Molossidae (2 spp.), Phyllostomidae (6 spp.) e Noctilionidae (2 spp.). As duas primeiras famílias e os filostomídeos Trachops eVampyrum, que utilizam o uropatágio na captura de alimentos, apresentam feixes de elastina no uropatágio bem desenvolvidos, em contraste com os filostomídeos frugívoros examinados, que não o utilizam para o forrageio. Também foram encontrados em Noctilionidae, Vespertilionidae e Vampyrum feixes musculares que se estendem da base da cauda à tíbia, sendo que em Vespertilionidae e Vampyrum esses feixes possuem uma espessura menor que 0,1mm, e em Noctilionidae a espessura chega a 0,5 mm. Estes feixes assemelham-se grosseiramente, em sua posição, origem e inserção, ao músculo uropatagialis, reportado até então somente em Pteropodidae. Futuramente faremos análises anatômicas do feixe muscular encontrado no uropatágio de Noctilio, verificando seu padrão de inervação e sua homologia com o uropatagialis de Pteropodidae. A ACP mostrou que o comprimento do “uropatagialis” de Noctilionidae é altamente correlacionado com o comprimento da tíbia (r = 0.891), mostrando alometria negativa. Em concordância com a alometria negativa, observou-se que em N. leporinus o músculo é relativamente mais curto que em N. albiventris, inserindo-se no terço distal da tíbia na primeira espécie e na extremidade distal na segunda. Os resultados preliminares corroboram nossa hipótese inicial, sugerindo que espécies que usam o uropatágio para captura de alimentos apresentam feixes uropatagiais mais desenvolvidos como adaptação.

Financiamento:

Área

Anatomia e Morfologia