Dados do Trabalho

Título:

CAMINHOS E PREDAÇAO: CONTRIBUIÇOES DOS TATUS PARA A OCORRENCIA DE FELINOS NO LIMITE AUSTRAL DA MATA ATLANTICA

Resumo:

Os tatus — além de serem base de presa de outros vertebrados — são importantes bioturbadores, contribuindo para o revolvimento da terra, escavação de tocas e abertura de carreiros. Ao fazerem isso, provocam modificações no ambiente e promovem novos habitats, abrigos e caminhos de deslocamento. No Estado de Santa Catarina ocorrem cinco espécies de felinos, Leopardus guttulus, Leopardus wiedii, Herpailurus yagouaroundi, Leopardus pardalis e Puma concolor, os quais podem influenciar na presença de espécies de tatus através do controle de populações e se beneficiar pelos carreiros e tocas disponibilizados por esses estruturadores florestais. Esses predadores realizam controle top-down gerando efeitos na cascata trófica e estruturação das comunidades biológicas. Neste estudo, analisamos como a presença de tatus influencia a ocorrência das espécies de felinos. Para verificar a existência de relação entre a presença/ausência de espécies de tatus (Dasypus novemcintus + Cabassous tatouay) e espécies de felinos, utilizamos armadilhas-fotográficas instaladas em 362 pontos distribuídos em 34 áreas no estado entre os anos de 2005 e 2022. Utilizamos uma Análise de Equação Estrutural (AEE) para verificar a existência de relação significativa (p < 0,05) entre a co-ocorrência de tatus e felinos. Foram obtidos 192 registros de presença de tatus em pontos de amostragem distintos e 389 registros de felinos no total. Houve relação significativa e positiva de tatus com L. guttulus (VE = 0.13; p < 0,016) e negativa com P. concolor (VE = -0.12; p < 0,039), não sendo verificada relação significativa entre tatus e L. wiedii, L. pardalis e H. yagouaroundi. Ainda, houve majoritária influência positiva entre as espécies de felinos. Nós sugerimos que a relação positiva entre tatus e L. guttulus pode estar associada ao uso de carreiros para locomoção e abrigo de pequenos mamíferos em suas tocas para predação. A relação negativa com P. concolor possivelmente está relacionada à predação direta. A relação positiva entre as espécies de felinos reflete diretamente a estrutura das assembleias de mamíferos, promovendo a coocorrência apenas em áreas mais intactas ou ambientalmente regeneradas. A importância de pesquisas relacionadas aos estruturadores florestais, reside no fato de contribuírem para uma maior complexidade nos ecossistemas, como já vem sendo estudado com o tatu-canastra. Assim, foi possível verificar que os tatus de menor porte estão associados há pelo menos duas das cinco espécies avaliadas, L. guttulus e P. concolor, contribuindo para que eles exerçam seus papéis funcionais de predadores especialistas no limite austral da Mata Atlântica.

Palavras-chave: Cabassous tatouay; Conservação; Dasypus novemcintus; Estruturador florestal; Felidae; Predador-presa

Financiamento:

Esse trabalho foi executado através do Projeto Fauna Floripa, parceria entre a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (FLORAM), o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA-SC) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Programa Ecológico de Longa Duração de Santa Catarina/PELD BISC financiado pelo CNPq (Chamada CNPq/Capes/FAPs/BC-Fundo Newton/PELD nº 15/2016, Chamada CNPq/MCTI/CONFAP-FAPS/PELD no 21/2020) e FAPESC (FAPESC 2018TR0928; FAPESC 2021TR386); Reserva Araponga; Paula D. Ribeiro Souza apoiada pela bolsa de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), n° 88887.519051/2020-00; JAB é apoiado pelas bolsas de pós-doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) nº 2018-05970-1 e nº 2019-11901-5

Área

Ecologia