11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

PADRAO DE ATIVIDADE E OCUPAÇAO POR CACHORROS DOMESTICOS (CANIS LUPUS FAMILIARIS) NO PARQUE NACIONAL DE BRASILIA

Resumo:

Os cães têm sido uma das principais espécies invasoras em áreas protegidas no Brasil. A proximidade destas com ocupações humanas faz com que elas estejam sob influência de efeitos antrópicos, incluindo a entrada de animais domésticos, o que pode afetar negativamente a conservação da fauna silvestre. Cachorros em áreas protegidas oferecem riscos de predação, ataque, disputa por território e transmissão de doenças, o que coloca a fauna sob ameaça. O objetivo foi verificar o padrão de atividade temporal e a distribuição dos cachorros no Parque Nacional de Brasília (PNB), identificando quais variáveis influenciam na ocupação e na detecção da espécie, a fim de confirmar a relação entre a proximidade de ocupações humanas e a entrada de cachorros no PNB.
O PNB é uma área protegida urbana de 40.000ha, com vegetação típica do Cerrado. Os registros foram obtidos com armadilhas fotográficas em 57 pontos distribuídos pelo PNB. Foi mantida uma distância de 1km entre os pontos, e em cada um havia uma câmera trap funcionando 24h/30dias. Foram realizadas duas campanhas: uma no período chuvoso (jan-abr) e uma na seca (ago-out) de 2020. Os registros foram triados e depois foram realizadas análises de padrão de atividade, sobreposição da atividade e ocupação, utilizando pacotes do R. Para a análise de ocupação, as variáveis foram: distância da borda; de construções humanas; de corpos d’água; temperatura; precipitação; e fitofisionomia.
Foram obtidos 28 registros de cachorros no PNB, sendo 24 na chuva e 4 na seca. A espécie foi registrada em 10 dos 57 pontos, totalizando ocupação simples de 17,5%. O padrão de atividade dos cachorros não apresentou uniformidade durante a chuva (0.57;p>0.001), diferentemente da seca (0.73;p= 0.10). Os cachorros são mais ativos no período chuvoso, com padrão de atividade diurno e pico às 8h. Na seca, a atividade dos cachorros caiu, mas observou-se um padrão diurno (registros às 6h, 9h e 11h). A sobreposição de atividade entre as campanhas foi baixa (Δ1=0.54), e concentrou-se no diurno (6h-12h). Na ocupação, não foi possível realizar a análise para a seca devido ao baixo nº de registros (N=4). Para o período de chuva, as variáveis de distância de corpos d’água (ΔAIC=1.32;AIC=0.39) e a fitofisionomia campestre (ΔAIC=0.00;AIC=0.20) foram importantes, influenciando positivamente a ocupação dos cachorros. Precipitação e temperatura não exerceram efeito na detecção.
Foi observado que a proximidade de corpos d’água e vegetação campestre exercem influência positiva na ocupação e detecção dos cães no PNB. Isso pode indicar que os animais invasores não necessariamente dependem de recursos humanos para a sua sobrevivência, já que hoje são encontrados em áreas mais centrais do Parque, e estes resultados alertam para o avanço da sua ocupação nesta área. Observamos agrupamentos de cães, apontando para uma possível feralização da espécie. A presença dos cães em áreas mais centrais do PNB tende a acarretar sérios riscos na conservação de espécies nativas.

Espécie invasora; cachorro feral; impacto humano; área protegida.

Financiamento:

Área

Conservação

Autores

Millena Castro Ribeiro, Priscilla Braga Petrazzini, Ludmilla Moura de Souza Aguiar