11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

CONTRIBUIÇAO DOS ESTUDOS MOLECULARES DE FEZES EM CARNIVOROS ELUSIVOS

Resumo:

Espécies que apresentam comportamento elusivo ou que ocorrem em baixa densidade naturalmente ou por ação antrópica, como os carnívoros, são particularmente difíceis de serem estudas. A amostragem não invasiva de fezes, em conjunto com abordagens moleculares tem sido amplamente utilizadas como ferramentas nos estudos ecológicos e genéticos de carnívoros. Contudo, análises genéticas dependem da qualidade das amostras, sendo sua eficiência em comparação com outras metodologias ainda debatida. Dessa forma, realizamos uma revisão sistemática da literatura com os objetivos de descobrir: 1) Como as ferramentas moleculares a partir de amostras fecais tem sido utilizadas para estudar carnívoros elusivos? 2) Qual o esforço amostral necessário para detectar tais espécies? 3) Quão eficaz é a amostragem genética das fezes em comparação com outros métodos de detecção? 4) Quais são as contribuições para o conhecimento genético das espécies? Nossa busca retornou 170 estudos de caso, representando as famílias Felidae (52), Canidae (50), Mustelidae (38), Ursidae (18), Phocidae (1), Ailuridae (1) e múltiplos grupos em 10 artigos. A metodologia de busca mais utilizada foi a baseada em transectos (60% dos trabalhos), seguida pela amostragem oportunista (16,5%). Considerando todas as famílias, a média de fezes encontradas por km de transectos foi de 1,16 (DP ± 1,58), não havendo diferença significativa entre as famílias (p>0,05, teste de Kruskal-Wallis). Os dados genéticos foram utilizados sobretudo para a identificação da espécie depositora das fezes (120 artigos), a partir principalmente de regiões dos genes CytB e da região controle do DNA mitocondrial, e para a identificação individual (124) a partir majoritariamente de microssatélites. O sucesso médio das identificações para todos os marcadores mitocondriais foi de 73,92%. Vinte e dois trabalhos compararam a detecção genética de fezes com outras metodologias: 12 considerando o número de detecções de uma espécie focal e 8 considerando o número de espécies detectadas. 58% e 37,5% dos trabalhos reportaram mais detecções de uma espécie focal ou mais espécies detectadas, respectivamente, com a abordagem genética. Em 4 estudos foi possível comparar o esforço amostral da identificação genética com o armadilhamento fotográfico. Foram necessários, em média, 10,66 (DP ± 10,55) km de transectos ou 20,56 (DP ± 16,46) armadilhamento/dias para detectar uma amostra fecal geneticamente identificada ou obter uma foto da espécie focal, respectivamente. Além da identificação da espécie e individual, dados genéticos foram utilizados para estudar aspectos demográficos (60), fluxo gênico (37), parentensco (24), filogeografia (10), entre outros. A coleta de amostras fecais foi avaliada como mais econômica em termos de tempo e recursos financeiros, requerendo apenas treinamento prévio para que se evite contaminações. Contudo, os procedimentos laboratoriais são custosos e alternativas existem para aumentar o sucesso das análises genéticas, como a limpeza da área amostral alguns dias antes da coleta para garantir a idade das fezes coletadas. É recomendado também que haja padronização da coleta e análises moleculares caso a espécie ainda não tenha sido estuda por essa metodologia. Consideramos, dessa forma, a amostragem genética das fezes eficaz para a detecção de carnívoros e adequada como fonte de dados para outras análises genéticas.

Palavras-chave: conservação, ecologia molecular, espécies ameaçadas, monitoramento, predadores

Financiamento:

FAPESP, CNPQ, CAPES

Área

Conservação

Autores

Marina Elisa de Oliveira, Pedro Manoel Galetti Junior