11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

SOBRE A VARIAÇAO MORFOLOGICA DA ESCAPULA E DO UMERO NOS RATOS DE ESPINHO (RODENTIA: ECHIMYIDAE)

Resumo:

A locomoção, como função fundamental nos mamíferos, está diretamente associada ao uso de recursos ecológicos e pressupõe estruturas anatômicas funcionalmente comprometidas evoluindo sob intensa pressão seletiva, portando especializações para diferentes hábitos locomotores. A família Echimyidae destaca-se entre os roedores caviomorfos por possuir a maior riqueza de espécies, relações filogenéticas relativamente bem resolvidas, grande variação na massa corporal e notável diversidade de hábitos locomotores, incluindo formas arborícolas, escansoriais, semiaquáticas, semifossoriais e terrestres. Assim, equimiídeos oferecem modelos promissores para entender como fatores filogenéticos, alométricos e ecológicos afetam a evolução de estruturas pós-cranianas ligadas à função locomotora. Investigamos a influência desses três fatores na variação morfológica escapular e umeral em 38 espécies de equimiídeos usando morfometria geométrica bidimensional e métodos comparativos filogeneticamente informados. A variação da forma escapular e umeral teve uma baixa correlação com a massa corporal (r2escápula = 0.039; r2úmero = 0.026) e com o tamanho do centroide de cada estrutura (r2escápula = 0.046; r2úmero = 0.013), sugerindo um efeito alométrico pequeno ou insignificante. Por outro lado, a partir do método de Blomberg foi detectado um sinal filogenético significativo em ambas as estruturas (Kescápula = 0.488, p = <0.001; Kúmero = 0.908, p = <0.001), sugerindo que uma parte importante de sua variação morfométrica resulta de uma história evolutiva compartilhada. Notavelmente, a variação morfológica da escápula foi amplamente estruturada pela filogenia, sem influência marcante dos hábitos locomotores, de acordo com ANOVA filogenética (F = 2.631, p = <0.001). As escápulas de Euryzygomatomyinae e Myocastorini caracterizaram-se por fossas supraespinhosas e infraespinhosas estreitas, espinha escapular longa, processo coracóide e tubérculo infraglenóide projetados cranialmente e uma região estreita entre o acrômio e o metacrômio; enquanto Echimyini apresentou condição morfológica oposta. Além disso, a maior parte de Myocastorini se diferenciou dos demais táxons por apresentar escápula com fossa supraespinhosa relativamente expandida e fossa infraespinhosa reduzida, espinha escapular curta e inclinada caudalmente. Nossos resultados, congruentes com o que já foi reportado para outros roedores caviomorfos, sugerem que a forma da escápula pode ser evolutivamente neutra. Em contraste com a escápula, a ANOVA filogenética demonstrou a importância dos hábitos locomotores na variação morfológica do úmero (F = 8,759; p = 0,014). Os equimiídeos semi-fossoriais se caracterizaram por apresentar úmero com diáfise encurtada, epífises largas, tuberosidade deltoide bem desenvolvida e posicionada proximalmente. No outro extremo da variação, os úmeros dos equimiídeos arborícolas se caracterizaram por apresentarem cabeça arredondada e projetada proximalmente, tuberosidade deltoide retraída e posicionada na região medial da diáfise, epífise distal curta, tróclea médio-lateral mais alongada, epicôndilo medial mais desenvolvido e epicôndilo lateral menos desenvolvido. Finalmente, sugerimos que as morfologias da escápula e do úmero, apesar de anatomicamente e funcionalmente interligadas, foram afetadas diferentemente por fatores ecológicos associados aos hábitos locomotores.
Palavras-chave: Caviomorpha, morfometria geométrica, ecomorfologia, variação pós-craniana, filogenia, alometria, ecologia.

Financiamento:

Área

Anatomia e Morfologia

Autores

Jeiel Gabrir Carvalhaes, William Corrêa Tavares, Roberto do Val Vilela, Paulo Sérgio D’Andrea