Dados do Trabalho

Título:

REDE DE VIGILANCIA DE VIRUS EM ANIMAIS SILVESTRES (PREVIR/MCTI): RESULTADOS PRELIMINARES DO MONITORAMENTO DE QUIROPTEROS NA AMAZONIA E MATA ATLANTICA

Resumo:

Alterações no hábitat impactam a biodiversidade e contribuem para o aumento na taxa de surgimento de doenças emergentes, das quais 60% são zoonoses e 75% oriundas de animais silvestres. A importância de diferentes grupos de hospedeiros silvestres para o surgimento de zoonoses emergentes tem sido relacionada à diversidade dos grupos taxonômicos. Morcegos são um táxon megadiverso frequentemente associado a coronaviroses, como o SARS-CoV, SARS-CoV-2 e MERS-CoV, que estão entre as mais letais do milênio. Definir o hospedeiro de origem permite conhecer melhor a relação hospedeiro-patógeno e traçar estratégias de mitigação e prevenção de epidemias e pandemias. Nos últimos dez anos, a necessidade de integração entre as coleções científicas e o estudo dos patógenos vem sendo apontada como fundamental para a correta identificação taxonômica e a atualização do seu status – especialmente em casos de hospedeiros tão diversos quanto os morcegos – além de permitir a compreensão da sua diversidade, distribuição e biologia. Espécimes testemunho permitem repetir experimentos e monitorar novos patógenos, ampliando a pesquisa de acordo com novas tecnologias. A ausência desses espécimes é um dos fatores que limitam a capacidade global de responder a pandemias. Atuações de equipes multidisciplinares também são fundamentais, tanto para a correta identificação dos exemplares quanto para traçar estratégias de amostragens mais eficientes. Em 2021 uma destas equipes propôs, juntamente com o MCTI, o estabelecimento de uma rede de vigilância epidemiológica contínua cobrindo todo o território nacional, o PREVIR. Reportamos aqui alguns dos resultados preliminares deste esforço, relacionados à incidência de Orthocoronavirinae em populações de morcegos em cinco localidades situadas na Floresta Atlântica e na Amazônia: São Lourenço da Serra (SP), Iperó (SP), Joinville (SC), Reserva Florestal Adolpho Ducke (AM), RDS do Rio Negro (AM) e Fazenda Fartura (PA). Coletamos amostras de swab oral e retal acondicionadas em VTM. Realizamos a extração do material genético e sua quantificação. Testamos as amostras para presença de Orthocoronavirinae realizando uma reação de nested-PCR com primers pan-coronavírus visando a região do gene RNA polymerase (RdRP). Na Amazônia, registramos 604 morcegos, dos quais 48 estavam positivos para coronavírus. Na Mata Atlântica, registramos 396 e encontramos seis infectados com CoV. Todas as sequências de CoV encontradas pertencem ao gênero Alphacoronavirus, agrupando-se com sequências já relatadas, o que reitera a circulação desse gênero em morcegos. Pela primeira vez foi registrado um coronavírus em Diphylla ecaudata. Os gêneros Alphacoronavirus e Betacoronavírus possuem uma relação coevolutiva com morcegos. Alguns coronavírus parecem estar relacionados ao táxon do hospedeiro e/ou à região geográfica. Na Mata Atlântica detectamos ainda herpesvírus (n=21), adenovírus (n=4) e papilomavírus (n=3), com co-infecção entre adenovírus e herpesvírus. Este trabalho traz resultados de amostragens em dois importantes biomas brasileiros, mantém a maior diversidade da quiropterofauna brasileira. Esse fato, associado à nossa capacidade de identificar corretamente os espécimes através dos exemplares testemunho depositados, bem como o sequenciamento e caracterização dos coronavírus existentes, poderá fornecer informações para a elucidação da relação parasito-hospedeiro, aumentando as chances de prevenção e controle de epidemias ou pandemias.

Financiamento:

CAPES - Processo nº 88887.518711/2020-00 - e financiamento do CNPq/MCTI.

Área

Parasitologia/Epidemiologia