11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

ELEMENTAR, MEU CARO! INVESTIGANDO ENCALHES DE BOTO-CINZA, SOTALIA GUIANENSIS (VAN BENEDEN, 1864) DE 2006 A 2019, NO ESTADO DO CEARA

Resumo:

Os encalhes são importantes eventos para estudos com mamíferos marinhos, podendo revelar informações relevantes, inclusive, interações conflituosas com os seres humanos. O boto-cinza (Sotalia guianensis), que habita águas costeiras no litoral do Ceará, incluindo áreas com elevado grau de urbanização, é o mamífero marinho que mais encalha no Estado. As principais ameaças à espécie são a captura acidental por pescadores, perda de habitat, poluição sonora e química. Este trabalho analisou os eventos de encalhe de boto-cinza no litoral cearense entre os anos de 2006 e 2019, buscando compreender os padrões espaciais dos encalhes e investigar os motivos de óbito a partir da base de dados coletados pela Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos - AQUASIS. As ocorrências foram documentadas durante monitoramentos de praias, ligações telefônicas, mensagens e vídeos enviados por colaboradores locais. Foram identificados 449 encalhes da espécie. A maior incidência de encalhes ocorreu em 2010 (n=75) e 2011 (n=54), e a menor em 2007 (n=6) e 2006 (n=9). A média de ocorrências anuais foi de 32 encalhes/ano. Com relação à distribuição anual por região, ocorreram 153 (33,33%) encalhes no litoral leste, 132 (28,76%) na região metropolitana de Fortaleza (RMF), 87 (18,95%) no oeste e 77 (16,78%) no extremo oeste. Os municípios de Aracati (n=62) e Beberibe (n=62) registraram a maior ocorrência, enquanto Barroquinha (n=4) e Itapipoca (n=8) a menor. Quanto à classe etária, foram 253 indivíduos adultos, 121 indeterminados, 36 juvenis, 36 filhotes e 3 neonatos. Referente ao sexo, foram 257 indivíduos indeterminados, 115 machos e 77 fêmeas. 87 registros ocorreram no verão, 136 na primavera, 137 no inverno e 85 no outono, sem diferença significativa (p=0.1341). Quatro registros tiveram a estação indeterminada. A causa mortis de 329 (73,27%) indivíduos foi indeterminada, principalmente pela condição avançada de decomposição das carcaças. Dos 120 (26,73%) com causa mortis determinada; 24,28% (109) foram associadas à interação antrópica e 11 (2,44%) causa natural. O resultado apresentou acréscimo de 200% na totalidade de registros de encalhes comparado a estudos anteriores. O aumento do esforço amostral e o fortalecimento da relação da Instituição com comunidades litorâneas no período analisado influenciaram diretamente neste crescimento. As estações de inverno e primavera correspondem aos meses de julho a dezembro, período com maior incidência de ventos, podendo contribuir para a deriva das carcaças e consequentemente, aumentando a chance de encalhe. A interação antropogênica detectada neste estudo que mais causou a morte dos indivíduos foi a pesca artesanal. A conservação da espécie no Ceará requer parcerias com órgãos governamentais e não governamentais, além da sensibilização das populações litorâneas para a cooperação na redução de impactos ambientais sobre as populações de botos.

Palavras-chave: Cetáceos, monitoramento, captura acidental

Financiamento:

Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos - AQUASIS.

Área

Conservação

Autores

Saulo de Souza Castro, Cinthya Leite de Oliveira, Andressa Rocha Fraga, Letícia Gonçalves Pereira, Vitor Luz Carvalho, Marina Kneipp Ramos