11º Congresso Brasileiro de Mastozoologia e 11º Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros

Dados do Trabalho


Título:

MUDANÇA SAZONAL NAS REDES DE INTERAÇAO ENTRE MORCEGOS INSETIVOROS URBANOS E SUAS PRESAS

Resumo:

A urbanização é uma das principais formas de mudança no uso da terra e vem se expandindo, especialmente no último século, com o aumento acelerado da população humana. A urbanização pode suprimir ou intensificar algumas pressões seletivas nas espécies como as variações temporais de alimento, água e risco de predação. Os morcegos e os roedores são os grupos de mamíferos que melhor conseguem se adaptar a área urbana. Dentre os morcegos, os insetívoros se utilizam das edificações como abrigo, aproveitam os pontos de postes com luz para se alimentarem e piscinas das residências para beber água. Cada família de morcego insetívoro é adaptada a um grupo de artrópodes, possuindo adaptações craniais, na aerodinâmica do voo e na ecolocalização para refinar sua dieta, gastando muito tempo na busca de alimento e um tempo relativamente curto no manuseio da presa, maximizando o sucesso de forrageio e ampliando sua dieta. Poucos estudos avaliam o padrão de dieta de morcegos urbanos, em especial na região neotropical, portanto nosso objetivo com esse trabalho é analisar e comparar sazonalmente a rede de interação entre morcegos insetívoros e suas presas em áreas urbanas do Distrito Federal e entorno. Realizamos coleta individual das fezes de cinco espécies de morcegos urbanos: Nyctinomops laticaudatus, Cynomops planirostris, Molossus molossus e Eumops perotis (Molossidae) e Histiotus diaphanopterus (Vespertilionidae). Essas fezes foram analisadas utilizando técnica de DNA metabarcoding, a fim de comparar as sequências obtidas com banco de dados genético. Uma análise de redes de interação relacionou os morcegos (predadores) e famílias de insetos (presas), comparando-as entre estações. Na análise das redes de interação, observamos que no período de seca, as espécies de morcego tendem a ampliar o número de famílias de insetos presentes na dieta, com exceção de C. planirostris que possui um padrão contrário. Por consequência, a métrica de especialização e conectância da rede mostra que as espécies representadas no período de chuva são significativamente mais especializadas que aquelas no período de seca, enquanto que a rede na seca é mais conectada. O padrão observado para as espécies H. diaphanopterus, N. laticaudatus e M. molossus pode ser explicado pela maior seleção de presas em período de chuva, guiado pela maior disponibilidade de recursos, uma vez que suas presas estão mais abundantes. Na seca, diante da dieta preferida pouco abundante, este amplia-a, comendo outros itens alimentares. Para C. planirostris, o padrão contrário encontrado pode estar relacionado a um comportamento de forrageio diferenciado, ficando pouco tempo fora do abrigo e saindo duas vezes na noite, enquanto as demais espécies ficam a noite toda fora do abrigo forrageando. Vieses amostrais também podem ter influenciado nesse padrão. Este tipo de estudo é de suma importância em regiões inseridas em hotspots de biodiversidade que possuem uma expansão rápida das cidades, pois pouco se conhece o impacto dessas mudanças na fauna silvestre. Morcegos são excelentes modelos bioindicadores, pois devido sua forte resiliência à vida urbana, alterações em suas atividades podem alertar sobre graves consequências da urbanização na vida silvestre.
Palavras-chave: metabarcoding; morcegos insetívoros; redes de interação; urbanização.

Financiamento:

Instituto Tecnológico Vale: financiamento das análises metabarcoding.

Área

Ecologia

Autores

Igor Daniel Bueno-Rocha, Eder Soares Pires, Santelmo Vasconcelos, Gisele Lopes Nunes, Guilherme Oliveira, Ludmilla Moura de Souza Aguiar